Papo de Gamer – Acredite em mim… Financiamentos coletivos
Red Ash, a nova empreitada de Keiji Inafune, criador de Megaman, foi financiado! Mas não pelos fãs, e sim por uma empresa misteriosa da China que ninguém nunca ouviu falar. Quanto àqueles que financiaram o projeto pelo Kickstarter, em que o valor inicial sequer foi atingido, fica a resposta vaga do Inafune.
Não foi dessa vez, Inafune… Mas quem sabe essa Fuze não faz algo bom?
Esse caso, somado ao recente anúncio de Shenmue 3 e sua confusão quanto ao real uso do financiamento junto a Sony, mostram exatamente como as campanhas de financiamento coletivo podem ser mal organizadas, mesmo pelos grandes desenvolvedores, algo que cheguei a mencionar em outro Papo de Gamer.
Agora é hora de entender um pouco isso. Ou pelo menos o que pude compreender com esses casos.
A Lei dos Retornos Diminutivos
Se você boiou no subtítulo, eu explico: Robert McKee, um estudioso de roteiros de Hollywood, sugeriu essa “lei” em seu livro Story (cuja a leitura eu recomendo para quem se interessa sobre como bons roteiros são produzidos), e acredito que, apesar dela se aplicar a roteiros em geral, ela também se aplica a própria vida e os negócios.
A trama não é lá essas coisas, mas foi um choque na época.
Hoje, super-heróis morrerem é motivo de piada em alguns casos.
Basicamente, essa lei diz que uma mesma emoção ou atitude não pode ser repetida da mesma forma, do contrário ela perde sua eficiência diante dos espectadores. Para exemplificar, vou dar um exemplo das histórias em quadrinhos: depois da saga “A Morte do Superman”, todas as mortes de super-heróis em quadrinhos ficaram banalizadas. Em outras palavras, não importa se o Batman, o Capitão América, o Homem-Aranha vão morrer, pois uma hora eles voltam.
Podemos observar algo similar no que tem ocorrido em algumas campanhas do Kickstarter. Especificamente no caso de Red Ash, a premissa foi a mesma de Mighty Nº9: ser um sucessor espiritual de Megaman, no caso da série Legends. Com uma identidade visual e ideias diferentes, a mesma intenção, porém sem os mesmos compromissos aparentes em relação ao primeiro projeto.
E esse foi o ponto, ao meu ver, que não levou ao sucesso no financiamento de Red Ash no Kickstarter, e as eventuais falhas posteriores.
Confiança é Tudo na Vida
Continuo confiante nos materiais, mas…
Lá naquele outro artigo sobre os games que os jogadores querem, comentei que parte do sucesso das campanhas se devem ao voto de confiança dos fãs em profissionais que eles já conhecem pelo seu histórico e propostas. Foi assim que Mighty Nº9 atingiu uma marca tão rápida de arrecadação e garantiu seu sucesso.
As pessoas confiaram, as primeiras amostras se mostraram promissoras… E o game parece chegar em seu segundo adiamento, agora para 2016. Prometido para praticamente todas as plataformas, Mighty Nº9 ainda não tem previsão de lançamento para portáteis. E para completar a desconfiança dos fãs, a falta de anúncio de Red Ash para outras plataformas além do XOne, PS4 e PC, além da parceria com a Fuze, isto só mostra o quanto deve ter sido complicado o processo de desenvolvimento do game anterior. Que mal foi lançado.
Estes fatores, ainda que relativamente pequenos, acabam por diminuir a confiança do público pelo produto final. Eu continuo empolgado com o game, mas se não houver a qualidade desejada, será mais um capítulo frustrante para quem espera um game novo nesse estilo Megaman.
Não caindo no Conto do Vigário
Casos como esse lembram que, tanto para desenvolvedores experientes como iniciantes, uma boa ideia ou referenciais passados podem não ser suficientes para atrair o público. Não adianta se valer de um caso de sucesso e repetir a fórmula sem garantir algo que valha o investimento. E no Kickstarter e outras ferramentas de Crowdfunding, isto é ainda mais importante. Afinal, não existem investidores inquisitivos ou desconhecedores do seu produto, são pessoas que acreditam na sua ideia e querem vê-la bem sucedida. E se não acharem que ela é valiosa, retiram seu apoio. Simples assim.
Só em termos de comparação: a Wayfoward, desenvolvedora da série Shantae, financiou o excelente Shantae and The Pirate’s Curse na mesma época de Mighty Nº9, recebendo ajuda deste inclusive na campanha de divulgação. O game foi lançado, foi bem recebido, e mesmo que não tenha atingido todas as metas, o próximo game da franquia, Half-Genie Hero também foi financiado pelo Kickstarter. E a própria desenvolvedora tem incentivado a entrada de sua personagem em Super Smash Bros pela votação do público. Boas ideias, boas execuções, e confiança.
Então, não se acanhe. Se você não sentir confiança no projeto, não importa o renome dos seus desenvolvedores; até eles podem ser bem mesquinhos, ou não terem ideia do que estão fazendo.
Criador do A Casa do Cogumelo, Game Designer e Criador da Madpix Game Studio. Formado em Artes Visuais e Pós-Graduado em Game Design. Quatro vezes melhor do Mundo em Mario Kart 7 e apaixonado pela franquia Mario.