No ano passado, tivemos o lançamento de duas das mais aguardadas sequências dos jogos: “Star Wars: Battlefront II”, da EA Games, e “Terra-Média: Sombras da Guerra”, da Warner. Ironicamente, os dois jogos não foram um sucesso de vendas justamente por um motivo em comum: microtransações!
As microtransações são pequenas compras dentro do jogo que liberam acesso a conteúdos mediante pagamento em dinheiro real. Essa é uma prática muito comum no cenário de jogos mobiles e nunca causou grande comoção pelo modo como era praticada. Grande parte dos jogos eram gratuitos até certo ponto e depois cobravam um valor para que o jogador tivesse acesso ao jogo inteiro.
Em alguns casos, você comprava itens em geral, até mesmo para melhorar o personagem – seja esteticamente ou em seus atributos. Nos jogos maiores, é uma prática que tomou mais notoriedade depois de “Dead Space 3” (EA Games – 2013) onde os jogadores poderiam comprar itens para montar os melhores equipamentos e armas para deixar seu personagem mais forte, mas esse itens poderiam ser conseguidos também por meio do gameplay comum. Então, até aquele momento, era uma simples prática inocente, tanto que aos poucos muitas empresas começaram a implementar esse método (como Assassin’s Creed, GTA V) e de repente chegamos em 2017, quando “Battlefront II” foi lançado – um jogo pensado exclusivamente no multiplayer, e é aí que o problema começa.
Quando se trata de um jogo singleplayer, as microtransações são opcionais, e isso vai afetar a dificuldade do jogo em geral. Sendo assim, vai afetar a sua experiência, e se você decidiu pagar para ter os melhores itens nos dez primeiros minutos de gameplay, nenhuma pessoa externa será afetada – um direito do jogador. Já em um jogo multiplayer as empresas procuram tomar o máximo de cuidado para manter um equilíbrio entre os jogadores comuns e os jogadores que pagaram pelos itens, apesar de sempre ter uma diferença. Em muitos casos, dá para criar um ambiente agradável para os dois tipos de jogadores.
Então vamos falar de Battlefront II
“Star Wars: Battlefront II” é um jogo de tiro em primeira pessoa (FPS – First Person Shooter) com os aclamados personagens da série, que por si só já movimenta um mercado inimaginável com os filmes, acessórios, séries e muitos outros materiais promocionais. O jogo anterior foi lançado em 2015 e trazia um gameplay fantástico, além dos diversos modos de jogo e um visual incrível – finalmente nascia ali (junto com o boom de marketing da nova trilogia) o reboot digno dos jogos de Star Wars.
Um ótimo retorno. Com a sequência, a EA Games foi alimentando o hype dos fãs com diversas melhorias e novos personagens, mais cenários clássicos e isso realmente deu o que falar. Então, você como um fã da saga decide gastar R$ 200 para comprar um jogo online, você provavelmente já pagou pelo serviço da PSN ou LIVE e, quando você inicia sua jornada completamente competitiva, descobre que o player “ZéDasCouves2018” pagou mais R$ 100 (logo no primeiro dia) para ter acesso aos melhores itens/personagens do jogo, e isso dá a ele uma vantagem absurda em todas as partidas, resultando em mais pontos pra ele e menos para todos os outros jogadores, gerando uma bola de neve absurda.
Em 10 dias, nenhum outro jogador é páreo para “ZéDasCouves2018” e aos poucos todos vão deixando de jogar, pois decidiram pagar “apenas” pelo preço do jogo. Isso deu início a um boicote interessante, a internet e o próprio mercado começaram a se pronunciar sobre o problema que as microtransações estavam trazendo para os jogos online e acabando completamente com as partidas justas, beneficiando os jogadores que pagaram mais ao invés dos com mais horas de jogo. Ainda sendo um jogo muito focado no singleplayer e muito menos competitivo, “Sombras da Guerra” foi lançado no mesmo período e também sofreu com a mobilização dos jogadores por conta das microtransações.

Hoje, ambos têm cerca de 6 meses de lançamento e mostram números baixos comparado às vendas do primeiro jogo das duas séries. Para um efeito básico de comparação, vamos usar as versões de Playstation 4 dos dois jogos, pois são as que mais venderam. “Terra-Média: Sombras de Mordor” (2014) tem cerca de 3.19 milhões de unidades vendidas no total, enquanto “Sombras da Guerra” (2017) contabiliza 1.67 milhão; “Star Wars: Battlefront” (2015) vendeu no total 7.94 milhões, enquanto “Battlefront II” (2017) vendeu até hoje 3.77 milhões. Num curto período de tempo é normal que algumas sequências mostrem números menores, nesse caso as duas produtoras decidiram tomar medidas para conquistar mais uma vez a credibilidade dos jogadores.
A EA foi a primeira a anunciar o fim das microtransações de vantagens em “Battlefront II”, que partindo deste mês, conta apenas com itens de aparência para comprar dentro do game, sendo esses mesmos itens também compráveis com créditos conseguidos pelo próprio jogo. Depois da atitude da EA, a Warner pôde considerar a ideia de remover as microtransações com todos os responsáveis por “Sombras da Guerra”, sendo assim, anunciaram que a partir do dia 08 de Maio vão encerrar os métodos de microtransações dentro do jogo. Além disso, também anunciaram novas atualizações com conteúdos novos para a campanha e aprimoramento do sistema nêmesis para melhorar a experiência dos jogadores.
Depois do fiasco e dos pedidos de desculpas das empresas tentando resgatar os jogadores, eventualmente as vendas dos dois jogos pode tomar um novo rumo, e só o futuro poderá dizer qual vai ser o caminho do mercado de jogos, jogos pagos integralmente ou jogos grátis com serviços pagos. Vale lembrar que antes das microtransações ainda temos as “DLC”, “Passe de Temporada” e outros meios das empresas tirarem mais um pouco de dinheiro dos jogadores, que provavelmente teremos a oportunidade de falar sobre todos eles em outras matérias.