Quando o primeiro jogo da saga Metroid apareceu, ficou claro que seria um jogo divisor de águas. A partir dali, plataforma e exploração poderiam se misturar e tra
zer jogos excelentes. Anos depois, com o sumiço da franquia no Nintendo 64, a expectativa de algo novo estava sumindo. Foi então que a Big N anunciou novos jogos para GBA e também para o novo GameCube. Mas o que esperar de um jogo em um console que permite fugir do gráfico de plataforma 2D? Hoje a nossa Máquina do Tempo vai nos levar para ver o Spin off Metroid Prime.
Estúdio rejeitado
Quando Super Metroid foi lançado, muitas cabeças explodiram. A trajetória da personagem Samus Aran em um mundo envolvente, com um enredo digno dos melhores filmes de ficção científica do cinema, deixou os fãs de cabelo em pé. Por muitos anos se gerou a expectativa do que poderia acontecer com as melhorias dos novos consoles. O Nintendo 64 surgiu e com ele veio todo um mundo 3D de excelente qualidade, como pudemos ver em Mario 64.
Apesar disso, a franquia não existiu no novo console e parecia que ficaria apenas nas lembranças dos consoles clássicos. Oito anos depois, o anúncio tão esperado aconteceu e veio em dobro. No ano de 2002 foi lançado Metroid Prime, para o GameCube e Metroid Fusion (Metroid 4 para quem quiser) para o GameBoy Advance. O jogo do portátil veio no estilo tradicional, como todos os fãs estão acostumados a ver. Mas Metroid Prime reservava uma surpresa que deixou muita gente desconfiada.
A parceria da criação do jogo ficou entre alguns membros importantes da Nintendo EAD (maior divisão dentro da empresa) e a Retro Studios. Essa empresa foi fundada pelo antigo diretor da Acclaim Entertainment, em parceria com a própria Big N. Para quem não lembra, a Acclaim é a desenvolvedora de Turok, e acabou falindo depois de se afundar em dívidas. Quando a Retro firmou seu local de trabalho em Austin, nos EUA ela começou a trabalhar direto em 4 projetos para o Cubo. Um ano depois, em 2000, Shigeru Myamoto resolveu dar uma passadinha por lá, para ver como andavam as coisas. E o mito da Big N não aprovou os quatro jogos e mandou cancelar tudo. Ele sugeriu a criação de um novo Metroid e depois de testar o protótipo de um FPS da empresa, ele aprovou o novo projeto.
A Retro seguiu trabalhando nesse projeto, enquanto mantinha contato com Myamoto e outros funcionários importantes da Nintendo EAD. De acordo com a ideia original, o game ficaria com o estilo de visão em terceira pessoa. Mas a lembrança da dificuldade que a Nintendo passou em controlar a câmera em Jet Force Gemini fez com que Myamoto rejeitasse a ideia. A partir daí, a câmera ficou em primeira pessoa e isso facilitou a exploração do mapa, tão característica no universo Metroid.
Metroid Prime foi lançado no ano de 2002, na América do Norte. Em 2009, como edição comemorativa, o jogo foi relançado no Japão, mas desta vez para o novo Nintendo Wii. O jogo recebeu aperfeiçoamentos gráficos e de jogabilidade, já que o poderio técnico do Wii era melhor e o uso dos Wii Remotes facilitavam muito a jogatina. No segundo semestre desse ano, o jogo foi agrupado com os seus dois sucessores e se criou um pacote especial, chamado Metroid Prime: Trilogy. Essa versão trazia todo o aprimoramento já existente na versão Japonesa e não foi lançada na terra dos orientais, pois eles já tinham relançado os outros games de forma separada.
Corra, Samus, corra
Tudo começa com Samus viajando pela órbita do planeta Tallon IV. Ela recebe um sinal de socorro vindo da fragata espacial Orpheon. Toda a tripulação desta nave foi dizimada pelos seus próprios experimentos científicos e ao chegar nela, Samus tem que lutar contra a Parasite Queen. Quando a heroína consegue derrotar o monstro, ele acaba caindo no núcleo do reator da Orpheon, iniciando a destruição da própria. Samus tem que correr contra o tempo e nesse período, uma descarga elétrica acaba desativando todas as funções de sua armadura. Durante a fuga, ela encontra um dos vilões mais incríveis de todos os jogos: Ridley. Desta vez, o dragão que persegue Samus por praticamente todos os games está em um formato metalizado, chamado Meta Ridley.
Samus consegue embarcar em sua nave e evitar os danos da destruição da Orpheon. Ela observa Ridley fugir do planeta e tenta segui-lo, mas perde-o de vista e acaba pousando no planeta mais próximo. O lugar se chama Tallon Overworld e possui um clima tropical, com bastante florestas e chuvas. Ela encontra a Chozo Ruins e nela as ruínas da civilização Chozo. Pra quem não tá lembrado, Samus, quando criança, foi a única sobrevivente de um ataque mortal de Ridley e seus Piratas Espaciais. A garota acabou sendo acolhida pelos Chozos, que são extremamente inteligentes e criaram várias tecnologias, como a armadura de Samus. A civilização foi destruída por um meteoro que continha uma substancia radioativa chamada Phazon e dentro existia um monstro conhecido como “The Worm”.
Nas ruínas, Samus descobre que existe um templo Chozo em Tallon Overworld e que ele foi selado pelo impacto do meteoro. Os piratas espaciais estão tentando quebrar esse selo e ter acesso as tecnologias avançadas da civilização. Existe um campo magnético bloqueando o lugar. Esse campo é alimentado por doze artefatos sagrados que estão escondidos pelo local. Na busca dos artefatos, a protagonista encontra as cavernas Magmoor, um lugar com diversos canais subterrâneos que foram criados por atividade vulcânica. Ela descobre que os piratas estão utilizando esses canais como fonte de energia e também como atalhos. Seguindo o trajeto, ela chega a região montanhosa e fria chamada Phendrana Drifts. Essa região é muito importante para os piratas espaciais, pois é onde eles abrigam os centros de pesquisas com Metroids.
Nesta região, a personagem principal consegue a Gravity Suit, armadura que permite andar livremente debaixo d’água. Ela vai até um lago próximo e entra nele, onde está afundada a fragata Orpheon. Explorando a fragata e o lago, Samus encontra o caminho para as minas Phazon, onde está o núcleo das operações dos piratas dentro de Tallon IV. Depois de enfrentar diversas versões geneticamente modificadas de Metroids e dos próprios Piratas Espaciais ela consegue avançar. Todas essas criaturas foram feitas em experiências com a substância Phazon. Durante as lutas, uma grande quantidade dela acaba entrando na armadura de Samus, e a transforma na Phazon Suit. Com isso, ela pode entrar nas áreas contaminadas com Phazon sem se machucar.
Depois de muita exploração, Samus consegue encontrar todas as dozes chaves do Templo Chozo. Ela sabe que a civilização extinta não conseguiu destruir Phazon e a criatura que está lá dentro e os selou, aguardando que alguém pudesse terminar o trabalho. Ao colocar a última chave no altar, Meta Ridley aparece e o destrói completamente. Depois da luta, a heroína descobre que os artefatos são a materialização dos espíritos dos Chozos e por isso eles abrem o selo mesmo com o altar destruído. Dentro do local, que é chamado de Impact Crater, existem lugares com contaminação muito alta de Phazon e cheio de Metroids superfortes. Ao chegar no fim do lugar ela encontra o ser responsável por essa contaminação e pelos Metroids. É uma criatura maligna chamada Metroid Prime.
Samus entra em batalha com Metroid Prime e depois de batalhar arduamente, consegue derrotar o inimigo. Mas antes de morrer, a criatura suga todo o revestimento de Phazon que a armadura da Samus havia conseguido. A criatura começa a inchar e preencher todo o lugar. A heroína tem que fugir antes que ela exploda, pois agora está apenas com sua Gravity Suit. Ela consegue escapar e o templo explode por causa da pressão que o monstro causou. Agora a produção de Phazon e o uso da substância pelos Piratas Espaciais foi impedida. Samus retorna para sua nave e viaja em busca da próxima missão.
Escanear, escanear, escanear
Metroid Prime mantém a premissa de possuir um mundo aberto para ser explorado. Existem diversas regiões que estão todas interligadas e existem elevadores para chegar até os andares. Cada região tem salas com inimigos e equipamentos para investigar. As portas têm a cor da arma necessária para abri-las. O jogo segue também a característica de exploração, resolução de puzzles e tem umas pitadas de plataforma.
É possível atirar nos inimigos com um sistema de “lock-on”, que trava a mira no alvo. Esta foi a primeira vez que temos uma visão de Samus em primeira pessoa. Essa visão só muda quando ela vira a Morph Ball. Nesse momento, seguimos a personagem em forma de esfera através de uma visão em terceira pessoa.
Durante a busca dos doze artefatos Chozos, Samus adquire diversos itens e habilidades. Em geral, essas habilidades permitem que ela acesse lugares que antes não seria possível. Muitos itens podem ser obtidos depois de derrotar os chefões, mas a maioria se encontra em locais escondidos. Existe também um display no capacete de Samus, que mostra o radar com mapa, quantidade de munição dos misseis, quantidade de energia e o perigo do local, além da quantidade de vida dos chefes da fase e seus nomes.
Existem quatro tipos de visores que podem ser alternados:
Thermal Visor, para identificar os inimigos pela temperatura corporal;
X-Ray Visor, parar enxergar inimigos de uma área em específico e aqueles que estão escondidos atrás da parede;
Scanner Visor, faz o escaneamento de objetos, ambientes aciona mecanismos, traduz mensagens e identifica as fraquezas dos inimigos;
Combat Visor: Essa é a visão simples de Samus.
Samus consegue melhorar o seu arsenal ao recolher itens e fazendo upgrade em sua armadura. Os upgrades consagrados estão de volta, como a Morph Ball, onde Samus vira uma esfera e rola por lugares inacessíveis. Também está presente o Grapple Beam, que serve como um gancho elétrico para se pendurar e pular até outros lugares. Os controles podem ser um pouco complicados de se acostumar no começo, mas depois de um tempo de prática o jogador já se habitua ao mundo 3D e a movimentação de câmera.
Kraid, cadê você?
Existe uma cena final que só é liberada se você zerar o jogo 100%;
A cena mostra Metroid Prime destroçado, mas de alguma forma se recuperando e formando uma espécie de humanoide. Isso acontece por que ele absorveu a armadura de Samus. Essa criatura será a vilã das sequencias de Metroid Prime;
Em 2000 e no início de 2001, três jogos foram cancelados pela Retro, e em julho desse ano, um RPG chamado Raven Blade foi rescindido, o que fez de Prime o único jogo em produção;
Durante os últimos nove meses de desenvolvimento, o time de desenvolvimento chegou a trabalhar entre 80 e 100 horas por semana para atingir o prazo estipulado pela Nintendo;
Kraid, chefe de Metroid e de Super Metroid, foi pretendido para fazer uma aparição em Prime e o designer Kohler Gene o projetou e modelou para esse propósito. Limitações de tempo, contudo, impediram que ele fosse acrescentado à versão final;
A primeira aparição pública do jogo foi em um vídeo de 10 segundos da feira SpaceWorld 2000. Em novembro do mesmo ano, a Retro Studios confirmou que estava envolvida no desenvolvimento do jogo;
A versão original de Prime recebeu três versões;
A primeira foi lançada apenas na América do Norte;
Já a segunda, lançada na América do Norte e no Japão, trouxe algumas correções de programação, como um bug que travava o jogo nos elevadores de acesso a Chozo Ruins;
A terceira, lançada apenas na Europa, trouxe algumas correções de roteiro e mecanismos que impediam a progressão do jogo fora da sequência desejada;
Para agradar os antigos fãs da série, o compositor deu novo tom a algumas faixas clássicas. O tema inicial de Tallon Overworld, por exemplo, é um remix do tema de Brinstar (Metroid), enquanto a música ouvida em Magmoor Caverns faz alusão a Norfair Lower (Super Metroid);
O recorde de zerar Metroid Prime é 1 hora e 4 minutos;
Os acontecimentos deste jogo se passam entre Metroid e Metroid II: O Retorno de Samus.
O primeiro vídeo de Metroid no mundo 3D
Vida longa e próspera
Depois de passar a desconfiança, Metroid Prime se tornou um dos jogos mais vendidos do GameCube. Vendeu tão bem, que em 2002 ele só perdeu em vendas para GTA: Vice City. O jogo se tornou um dos mais bem-sucedidos do Cubo da Nintendo e teve grande aprovação da crítica especializada por todo o mundo.
O primeiro impacto quando uma franquia tão amada é sempre forte. Aconteceu na transição de Mario para o mundo das três dimensões. Em geral, não gostamos muito de ver os nossos games favoritos mudando, demoramos a perceber que isso pode ser muito bom. Ao sair das plataformas em duas dimensões, Samus tomou forma em um mundo que provavelmente nós imaginávamos em nossa cabeça. Quando jogamos Super Metroid ou os outros jogos da saga, não vemos Ridley como um dragão que tem uma proporção de 2 x 1 em relação a Samus. Em nossas viagens mentais de jogadores de games, Ridley é um dragão imenso que está percorrendo um espaço muito grande e devemos enfrentá-lo com coragem.
Metroid Prime veio para dar um alento em nossas imaginações e colocar esse mundo em prática. A qualidade do trabalho é espetacular. Vivemos o que realmente é para ser a saga Metroid. A história, que segue uma linha paralela dos originais, é bastante envolvente e nos leva a um mundo de ficção científica bem trabalhado. A trilha sonora torna os ambientes memoráveis, relembrando os velhos tempos e inserindo belezas novas. A jogabilidade cumpre o seu papel. Não é complicado entender os comandos e escanear (mesmo que repetitivo) é algo interessante e necessário no contexto do jogo.
O jogo é excelente, em todos os quesitos. Faz jus à franquia Metroid e deixa aquele gostinho de quero mais (NO WII U, POR FAVOR). Mesmo aqueles jogadores mais saudosistas vão se interessar pelo estilo que a franquia tomou. Vale apena experimentar e apreciar essa obra de arte.
Criador do A Casa do Cogumelo, Game Designer e Criador da Madpix Game Studio. Formado em Artes Visuais e Pós-Graduado em Game Design. Quatro vezes melhor do Mundo em Mario Kart 7 e apaixonado pela franquia Mario.