Máquina do Tempo: Earthbound

Os games de RPG que estamos acostumados a jogar em vídeo-games tiveram suas origens nos clássicos RPGs de mesa. Grande parte deles tem a história focada em aventuras com dragões, monstros, espadas e fantasias clássicas de uma Idade Média imaginária. Hoje, a nossa Máquina do Tempo vai falar sobre um RPG que revolucionou, saindo dos costumeiros temas e criando um mundo mais moderno: Earthbound.

Earthbound é uma sequencia do jogo conhecido como Mother, lançado para o NES, em 1989 no Japão. Após cinco anos, Mother 2 (como é chamado no Japão) foi lançado. O jogo foi produzido e desenvolvido pelas empresas Ape e HAL. A Ape acabou se transformando na Creatures que conhecemos hoje. Ela é responsável por jogos como Pokémon Emerald e PokePark Wii. O design do jogo e o enredo foram criados pelo autor e musico Shigesato Itoi e a produção ficou por conta do futuro presidente da Nintendo, Satoru Iwata.

A equipe que trabalhou no jogo foi totalmente diferente daquela que produziu o primeiro game da série. O desenvolvimento do jogo demorou muito mais que o previsto e foi ameaçado de cancelamento por diversas vezes. A produção estava indo de mal a pior quando Iwata chegou para se unir a equipe e resolver a situação. A equipe da HAL estava sendo liderada por Iwata e ficou responsável pela programação do jogo em si enquanto a equipe da Ape estava sendo liderada por Kouji Malta e trabalharam em uma programação específica, como textos e mapas.

O jogo continua a história do primeiro game da série, com Giygas novamente sendo o vilão. Earthbound também dá a possibilidade do jogador escolher o nome do protagonista, com a intenção de “continuar” com os mesmos personagens de antes. A maior dificuldade dos programadores foi em habilitar os controles da bicicleta. O medidor de HP teve sua primeira ideia baseada no jogo Pachinko, aquelas máquinas estilo caça-níquel, que são muito famosas no Japão. O medidor de energia iria cair como as bolinhas quando o jogador fosse atingido, mas isso não funcionou bem para os personagens e eles decidiram mudar para algo mais parecido com um contador.

A trilha sonora foi composta novamente por Keiichi Suzuki e Hirokazu Tanaka, que usaram muitas vezes como referência a banda The Beach Boys. A equipe escreveu mais de 100 sons para o jogo e incluiu apenas o suficiente para preencher 8 megabits do cartucho que tinha capacidade para 24 megabits.

O game se passa em uma época não determinada dos anos 90, na cidade de Onett. Earthbound começa com o personagem Ness indo investigar um meteoro que caiu nas proximidades. Ele e seu vizinho Pokey partem na aventura e acabam encontrando uma força alienígena que se chama Giygas. Esta força deixou o mundo envolto por ódio e com isso tornou os seres humanos, os animais e até mesmos os objetos em criaturas malignas.

Nas redondezas do local, eles acabam conhecendo uma abelha que veio do futuro, que passa instruções de como coletar melodias da “Pedra do Som” e com isso conseguir parar o avanço maldade. Agora Ness deve partir em busca de oito santuários da Terra e assim ter forças para derrotar Giygas, o destruidor cósmico de planetas.

Nesta jornada contra o mal, Ness faz amizade com outras crianças que resolvem ajudá-lo em sua aventura. Paula é uma sub-celebridade da cidade de Twoson, Jeff é um nerd que mora em Winters e Poo é príncipe de Dalaam. Vamos conhecer um pouco mais sobre os personagens:

Ness: ele é o personagem principal de Earthbound. Utiliza como armas: Tacos de baseball, ioiô e estilingues. Tem uma ligação muito forte com a sua mãe, e quando fica muito tempo sem ligar para casa, ele não consegue se concentrar direito nas batalhas. Ele é o único que consegue usar o golpe psíquico especial Rockin’.

Paula: ela é especialistas em golpes psíquicos. Se une à Ness quando ele a salva da seita “Happy Happiest”, na cidade de Twoson. Seus pais são donos de uma creche e tem muita confiança na filha. Usa frigideiras como armas principais, mas também pode aderir aos estilingues e ioiôs. Todos os seus ataques são ofensivos, mas possui a habilidade “Rezar”, que tem efeitos aleatórios, como recuperação de vida, ataques aleatórios e ressurreição.

Jeff: Ele mora em um colégio interno, na cidade de Winters. Paula faz contato por telepatia com ele, pedindo ajuda para a jornada. Utiliza óculos grossos e é viciado e perito em tecnologia. Ele chega até os seus novos amigos através de um disco voador, criado pelo seu pai o grande gênio da ciência, Dr Andonuts. Ele não consegue utilizar nenhum tipo de poder psíquico, mas tem uma variedade bem grande em armas de fogo e consegue transformar qualquer coisa em um armamento.

Poo: Vindo da terra mística de Dalaam, ele é perito em artes marciais e não come nenhum alimento que não seja saudável. Ele se une à equipe de Ness quando seus amigos entram em contato com ele, revelando a necessidade de ajuda. Ele se separa do grupo duas vezes para treinar com o mestre Star e acaba aprendendo um dos poderes psíquicos mais fortes do jogo, o Starstorm.

Diferentemente da maioria dos jogos de RPG, Earthbound se passa numa época que condiz com a realidade do lançamento do jogo. Neste game, os temas são referentes a atualidade, o que acaba refletindo nos mapas, nas características dos personagens e também nas armas que eles utilizam. Além da inovação com o tema, ele trazia algo que não era muito encontrado em outros games: controlar a party inteira no mundo bidimensional. Estamos acostumados a ver o personagem principal andando sozinho pelos mapas e quando uma batalha acontecia, os outros personagens apareciam para lutar. Nesse jogo, Ness anda por vilas, montanhas, lagos e florestas com a sua equipe visível na tela.

Ao contrário do seu antecessor, Earthbound não tem batalhas randômicas que acontecem quando o personagem passa por determinado lugar. Agora, os inimigos estão pelo cenário e quando ocorrer contato físico com eles, as batalhas se iniciarão. O jogo também possui muitos elementos de RPG, como pontos de experiências adquiridos em batalha para a progressão dos personagens. Atributos como ataque, defesa, nível de energia e poderes psíquicos são incrementados com o aumento de nível. Os mapas de Earthbound são sem intervalos de ligação, como podemos encontrar nos outros RPGs. O ambiente é sempre o mesmo, sem transição e diferenciação das cidades e do mundo fora delas. Outra diferença que podemos notar é o tipo de vista que o jogo utiliza. Enquanto a maioria dos jogos desse estilo preferem uma vista de cima, Earthbound usa a “projeçao oblíqua”, que consiste na vista mais em diagonal em relação aos personagens.

Como o jogo se passa na época dos anos 90, as armas utilizadas pelas crianças são diferentes das usuais espadas e arco e flecha. O armamento do game consiste frequentemente em bastões de baseball e estilingues. Em batalha, o jogador pode escolher diversas ações para os seus personagens. Essas ações são: atacar, curar, espionar (revelar a força e a fraqueza do inimigo), espelhamento (imitar um inimigo em específico) e fugir. Além dos ataques básicos, os ataques especiais psíquicos podem ser utilizados, mas com limitações.

O dinheiro de Earthbound não é adquirido após cada batalha ser ganha. O dinheiro é recebido pelo pai de Ness e vai variar de acordo com o número de batalhas ganhas pelo jogador. Ness deve ligar para o seu pai, que irá depositar o dinheiro em uma conta e o dinheiro deve ser retirado de algum caixa eletrônico. Com esse dinheiro, é possível comprar itens, armaduras e armas e também utilizar alguns serviços da cidade, como a cura em hospitais.

Earthbound não foi muito bem recebido nos EUA. Vendeu cerca de 140 mil cópias e o dobro disso no Japão. Muitos acreditam que essa baixa se deve ao fato do gráfico ser muito simples em relação ao que todos estavam acostumados no Super Nintendo e também pela pouca atração que os Estadunidenses tinham relação aos RPGs naquela época. Além disso, a propaganda utilizada na divulgação do jogo foi considerada no mínimo, bizarra.

Apesar das vendas não terem sido boas, a relação de notas da crítica especializada ficou com média 9. O jogo foi muito elogiado pela originalidade do enredo e da ambientação. Como um game inovador, várias características se sobressaíram em relação ao gráfico que foi considerado um ponto bastante negativo. Apesar disso, a trilha sonora foi considerada excelente e inseria o jogador no contexto com perfeição. O sistema de batalhas e controle são excelentes e fáceis de entender. O jogador não se sente perdido ou trancado em qualquer momento. O humor inserido no jogo, que está presente nas falas e também na relação dos personagens foi um adendo de sucesso para o jogo.

O jogo acabou fazendo sucesso com uma boa base de fãs. Muitos o classificam como um game cult e essencial. Apesar de muitas críticas do povo norte americano, o jogo fez um sucesso relativo e recebeu uma sequencia para o Nintendo 64. O jogo é um excelente RPG. Ele traz um tema mais atual, algo que não é muito visto e aliado com o seu humor, deixa a diversão fluir facilmente. Para aqueles que desejam um RPG diferente, com personagens carismáticos e diversão garantida, Earthbound é a escolha certa.

Comercial de Earthbound nos Estados Unidos