Alguns jogos marcam gerações e continuam nos corações dos fãs pra sempre. Esses jogos são relembrados e se tornam referência para a maioria dos jogos futuros. Os JRPG (Japanese RPG) foram uma evolução nesse estilo de jogo e até hoje são considerados os melhores RPGs criados. Nossa Máquina do Tempo vai nos levar para um dos maiores RPGs da história do vídeo-game e que completou 20 anos esse mês: Chrono Trigger.
Dream Team
Estamos no ano de 1992. Uma rodinha de três camaradas está conversando em algum lugar qualquer. Isso não é nada de extraordinário, não é mesmo? Mas e se as três mentes que estão conversando fossem Hironobu Sakaguchi, Yuji Horii e Akira Toriyama? Não sabe quem são eles? Sakaguchi é produtor e criador da série Final Fantasy. Horii é diretor e criador de Dragon Quest. E Akira Toriyama é o criador de Dragon Ball. Parece uma conversa interessante, não é mesmo? Os três estavam em uma viagem nos EUA para pesquisar sobre computação gráfica e decidiram criar um jogo que “ninguém havia feito antes”. Eles passaram o resto do ano tentando fazer o projeto continuar, mas as dificuldades eram muito grandes naquela época. Sabendo que essas três mentes brilhantes estavam unidas, a SquareSoft (depois viria a se tornar Squar Enix) se ofereceu para produzir o jogo deles. Depois de quatro dias de “brainstorm” eles já haviam decidido que rumo tomar. A Square convocou cerca de 60 desenvolvedores para trabalhar na produção do jogo, incluindo o roteirista Masato Kato, que era conhecido pelo seu trabalho na série Ninja Gaiden. Ele foi escolhido para planejar o enredo do game e no começo ele se mostrava contrário à ideia de viagem no tempo, pois temia que o gameplay fosse repetitivo e maçante.
O jogo estava sendo criado para o “Super Famicom Disk Drive”, uma espécie de Nintendo 64 DD do Super Nintendo. Como o projeto foi cancelado pela empresa, eles redirecionaram para os cartuchos do SNES. Yuji Horii é fã de histórias de viagem no tempo, e insistiu nessa ideia, conseguindo incorporar ela no enredo do jogo e para ajudar os jogadores, eles criaram “End of Time”, caso ficassem presos em alguma parte do game. Yasunori Mitsuda foi o criador das músicas sob coordenador de Nobuo Uematsu, o mestre da trilha sonora de Final Fantasy. Os fãs que fizessem a pre-order do jogo para o DS ganhariam um cd com as treze músicas do jogo. Mitsuda conta que é difícil acreditar que elas são músicas adoradas mesmo depois de tanto tempo. O cartucho de Chrono Trigger usou 32 mb com bateria para salvar os jogos. A aventura foi desenvolvida no chamado “monomito”, onde um personagem comum entra na história para se tornar o herói e salvar o mundo. Esse jeito de contar a história coloca o jogador dentro do game e cria uma grande empatia pelos personagens e por todo o jogo.
Viagem no Tempo
Nosso personagem principal se chama Crono. Um jovem de cabelos vermelhos que está ansioso para ir até a Feira do Milênio, no ano AD 1000, pois este ano a amiga dele, que é perita em tecnologia dele, Lucca, irá apresentar uma nova máquina de teletransporte. Na Feira, Crono conhece uma garota chamada Marle. Ele não sabe, mas Marle está escondendo sua identidade, já que ela é a princesa de Guardia e deseja se divertir tranquilamente na feira. Ela se escala como voluntária para testar a máquina, mas o colar que está usando interfere e cria um portal do tempo que suga ela. Crono e Lucca conseguem refazer um novo portal do tempo para ir atrás de Marle. Eles conseguem voltar para o ano de AD 600, mas somente veem a princesa simplesmente desaparecer diante dos olhos deles. Lucca percebe que o reino, no período em que eles estão, confundiu Marle com algum antepassado dela que tinha sido sequestrado. Eles partem então para resgatar a Rainha e consertar a linha do tempo. No caminho, encontram um sapo-caveleiro chamado Frog que os ajuda a salvar a Rainha sequestrada. Depois de salvarem a ancestral de Marle eles partem para o futuro consertado. Crono é preso, acusado de sequestrar a princesa e sentenciado a morte pelo atual Chanceler de Guardia. Lucca e Marle conseguem fugir rapidamente usando outro portal do tempo e acabam parando no ano AD 2300, onde eles aprendem que a civilização avançada foi eliminada por uma criatura giganta chamada Lavos, que apareceu em AD 1999. Eles prometem encontrar uma forma de salvar o futuro da destruição. Em sua busca, eles encontram e consertam um robô chamado Robo que os acompanha na jornada. Após isso, conhecem Gaspar, um velho sábio que está na “End of Time” e os ajuda a adquirir poderes mágicos e viajar no tempo através de diversos pilares de luz.
Eles voltam para o ano AD 600, para desafiar Magus, pois acreditam que ele está ajudando Lavos. Após a batalha, um feitiço conjura um portão do tempo que joga Crono e seus amigos para o passado pré-histórico. Depois de visitar a era pré-histórica e arrumar a espada de Frog, o sapo se une novamente a eles, juntamente com Ayla, uma garota das cavernas. Nessa época, eles enfrentam os Reptites (espécie de mistura de humanos com dinossauros) e aprendem que Lavos é um alienígena que pousou no planeta milhões de anos antes e começou a absorver DNA e energia de toda e qualquer criatura viva antes de se levantar e arrasar tudo e criar uma nova civilização. No ano 12000 BC, eles encontram o Reino de Zeal, recentemente descoberto por Lavos, que pretende drenar todo o poder do lugar para alcançar a imortalidade. Enquanto isso, Crono e seus amigos são presos pela rainha Zeal. Embora a filha da rainha, Schala, tenha libertado eles, um profeta que misteriosamente começou a aconselhar a rainha, diz que eles devem ser banidos do reino e selar o portão do tempo que eles usaram para viajar na Idade das Trevas. Os aventureiros acabam parando em AD 2300, onde encontram uma máquina do tempo, permitindo que viagem para qualquer época, sem a necessidade do portão do tempo. Com a máquina, voltam para Zeal, no Ocean Palaca onde Lavos está sendo acordado pela Mammon Machine (um ser bio-mecânico). O profeta revela ser Magus e tenta matar a criatura. Crono fica em frente à Lavos, mas é vaporizado por uma poderosa explosão e depois disso, Lavos destrói o Reino de Zeal.
Crono e seus amigos acordam em um vilarejo e encontram Magus, que confessa ser o príncipe Janus de Zeal. Ele conta que o desastre ocorrido dispersou os Gurus de Zeal através do tempo e mandou ele para a Idade Média. Ele começou a usar o codinome de Magus e conquistou uma seita de seguidores que pretendiam invocar e matar Lavos, para se vingar da morte de sua irmã Schala, mas como Crono apareceu antes da batalha e foi morto por Lavos, ele os lançou de volta no tempo de Zeal e se apresentou para eles como um profeta. Enquanto os companheiros partem, o Ocean Palace começa a se elevar para o céu, se tornando Black Omen. O grupo vai até Gaspar, pedindo ajuda e ele entrega “Chrono Trigger”, um aparelho em forma de ovo que permite a eles trocarem Crono por um boneco antes de ele morrer. Mas primeiro eles precisam aumentar os poderes e para isso, começam a ajudar pessoas com instruções de Gaspar. Após isso, eles partem para Black Omen e derrotam a Rainha Zeal e então conseguem vencer Lavos, salvando o futuro do mundo.
RPG como nunca se viu
Chrono Trigger é um clássico jogo de RPG, mas que tem uma série de inovações. O protagonista segue por um mundo bidimensional, com vários temas, como cidades, florestas e cavernas. Além desses lugares, existe um mapa-múndi em que o jogador pode andar para entrar nas cidades ou dungeons. Nesses lugares existem quebra-cabeças para resolver ou itens para encontrar antes que seja possível proceder até a nova área.
Diferentemente dos outros jogos de RPG, em que o sistema de batalha em que os inimigos aparecem de forma randômica, em Chrono Trigger, muitos deles estão no campo de visão do jogador e se colocam em uma formação de batalha ao encontrar o inimigo. Essas batalhas acontecem no mesmo cenário em que o jogador se encontra, ao invés de abrir uma tela de batalha secundária. Cada personagem pode utilizar ataques físicos e mágicos, e também itens com efeitos diversos. Para melhorar as habilidades, existem equipamentos que são ganhos após a batalha ou encontrando nos cenários, e claro, os bons e velhos vendedores das cidades.
O jogo utiliza um sistema de batalha ativa, no mesmo estilo de Final Fantasy. Cada personagem toma ação de acordo com uma barra tempo e a velocidade do personagem determina quando ele poderá tomar a ação novamente. O sistema de magias de Chrono Trigger é único, pois ele permite que magias possam ser lançadas de forma cooperativa. Além da temática de viagem no tempo, o jogo inova por ter treze possíveis finais diferentes, que dependem de como o jogador alcança e termina a batalha final.
Rock’n’Roll ou tempero?
Como era de se esperar, um jogo criado pelo Dream Team seria algo fantástico e impossível de ser ruim. Esses gênios fizeram um jogo com grande numero de curiosidades e que até hoje podem ser encontradas coisas novas. Várias teorias foram criadas pelos fãs, mas isso vamos deixar para outro tempo.
- Chrono é a personificação do tempo. O nome do personagem principal perdeu o “H” por questões de tradução;
- Os três generais de Magus se chamam Ozzie, Slash e Flea em referência aos integrantes de Black Sabbath, Guns n’Roses e Red Hot Chilli Peppers;
- No Japão, os três generais se chamam Vinegar, Soiso e Mayonnai, que são alusões a vinagre, molho de soja e maionese;
- O nome de Magus no Japão é Maoh, que quer dizer literalmente “rei demônio”;
- Ayla possui somente ataques físicos, pois em sua época não existia magia;
- O nome dos Gurus de Zeal são os mesmos dos três reis magos da bíblia: Belthasar, Melchior e Gaspar;
- É fácil perceber que vários personagens são semelhantes com os de Dragon Ball;
- Crono não fala nada durante o jogo todo. Isso só acontece em um dos finais.
- Por um erro de tradução, Frog chama Slash de Sir Slush, uma gíria para “vadia alcoólatra”;
- Há uma sala no castelo de Magus em 600 AD que é um tributo ao arcade Donkey Kong, de 1982.
O melhor RPG?
O jogo foi top de vendas no Japão. Os primeiros dois milhões de cópias foram vendidas em apenas dois meses. Ele finalizou o ano de 1995 no terceiro lugar de vendas, perdendo apenas para Dragon Quest IV e Donkey Kong Country 2. Nos Estados Unidos, as vendas foram bastante elevadas, e a versão para o Nintendo DS vendeu cerca de 240 mil cópias. De acordo com a Nintendo Power, o jogo é o maior da Square e a EGM deu os prêmios de melhor RPG, melhor música em um cartucho e melhor jogo de SNES.
O game é frequentemente listado entre os melhores jogos da história e de acordo com a IGN, ele está entre os 100 melhores de todos os tempos. O sucesso do game foi tanto e a vontade de jogar novamente era imensa, por isso em 2008 foi lançado uma versão para DS. Ela trouxe algumas alterações em comparação com a versão do Super Nintendo, tanto em questões gráficas, como dentro do jogo, como nomes, dungeons e etc.
Chrono Trigger é realmente o melhor RPG já criado? A sua história e os elementos inovadores com certeza o tornam excepcional. Mas o jogo também é incrível pela temática e pela construção dos personagens. A forma como a música, as dungeons e o enredo se juntam, fazem com que o jogador entre de cabeça no game e fique por lá por horas sem notar. Pode não ser o melhor de todos os tempos, mas você está perdendo tempo ao não jogar ele.