Histórias de vampiro sempre foram de grande interesse das pessoas. Esses seres fantásticos que sugam a energia vital de humanos foram retratados de várias formas diferentes (Crepúsculo não conta). Saindo da mitologia e indo pra literatura, temos como principal referência o grande Drácula. Ele entrou na cabeça das pessoas deixando um exemplo de vampiro que perdura até hoje. Muitos jogos foram lançados se baseando na história de Drácula ou apenas o utilizando como personagem em alguma história mirabolante. A série Castlevania traz essa temática de vencer o poderoso vampiro para trazer de volta a paz, tornando-se uma das mais famosas do gênero. Nossa Máquina do Tempo de hoje vai nos transportar para um jogo do passado, mas que tem ambientação no futuro: Castlevania: Aria of Sorrow.
Fugindo da história
A primeira aparição de Aria of Sorrow foi em uma conferência em San Francisco, no ano de 2003. O produtor-executivo da Konami que fez o anunciamento era Koji Igarashi. Ele já havia trabalhado em outros jogos da série Castlevania e viria a trabalhar em todos os outros depois deste game, até sua saída da empresa. Este seria o segundo jogo para o Game Boy Advanced que Igarashi iria produzir. Tentando mudar a ambientação para algo mais futurista, Igarashi, juntamente com seu colega Ayami Kojima, procuraram desenvolver o design dos personagens de forma mais contemporânea, fugindo do tema medieval.
O desafio de criar algo que fugisse do tema habitual era algo que preocupava a Konami e seus funcionários. A série sempre foi muito bem avaliada e eles não saberiam como uma temática nova seria recebida pelo público e pela crítica especializada. Koji também se preocupava muito com as trilha sonora do game. O jogo anterior Harmony of Dissonance, anterior a Aria of Sorrow, recebeu muitas críticas negativas pela trilha sonora ruim. Para resolver esse problema, Michiru Yamane foi contratado, pois era de confiança de Igarashi. Outro desafio era manter a qualidade gráfica da série, e incorporando alguns elementos que faltaram no jogo anterior, como salas secretas.
O futuro do passado
A história de Castlevania conta a luta do clã Belmont contra o terrível Conde Drácula. Trinta e seis anos antes dos acontecimentos de Aria of Sorrow, o vampiro foi derrotado de uma vez por todas pelo clã e seus poderes foram aprisionados dentro de um eclipse solar. Após a derrota, uma profecia foi lançada, afirmando que no ano de 2035, a reencarnação de Drácula iria retornar ao famoso castelo e herdar todos os poderes do vampiro.
Aria of Sorrow começa quando Soma Cruz está visitando o Japão. Ele encontra sua amiga de infância, Mina Hakuba e os dois acabam sendo jogados para dentro de um eclipse solar e parando em frente a um grande castelo. Dentro do castelo, eles encontram um homem chamado Genya Arikado. Genya revela que eles estão dentro do castelo de Drácula. Um grupo de demônios aparece e Arikado destrói a todos e as almas deles são absorvidas por Soma Cruz. De acordo com Genya Arikado, as almas foram absorvidas por que o jovem Soma tem o “poder do domínio” e que ele estava “despertando”. Ele então diz que Soma deve ir até a sala do trono, onde ele encontrará respostas para todas as dúvidas.
Soma Cruz parte então em busca da sala do trono e ao longo do castelo vai encontrando diversos personagens que têm papéis diferentes na profecia de Drácula. Graham Jones é um missionário que se torna amigo de Soma e revela que o Conde está realmente morto, mas que ele irá reencarnar em breve. Yoko Belnades foi enviada pela Igreja Católica e ela acredita que Graham é o futuro herdeiro dos poderes do grande vampiro. Ela conta que os poderes de Soma não são necessariamente maléficos, que tudo depende da natureza dele. Soma Cruz também conhece Hammer, um soldado dos EUA, que foi enviado pelo exército para investigar os acontecimentos no eclipse. Esse soldado desistiu de sua missão para vender armas e equipamentos no castelo. Ele se torna o vendedor de Soma, que pode se equipar para enfrentar melhor os perigos do castelo. Por fim, ele também é abordado por um homem que pergunta sobre a natureza maligna do poder de Soma. Este homem tem perde de memória e só se lembra de que seu nome começa com “J”.
Com o desenrolar da história, Graham revela que ele realmente receberá os poderes de Drácula, mas ele teme o “poder do domínio” que Soma Cruz possui. Yoko pede a Soma que a ajude a derrotar Graham para impedir que os poderes de Drácula retornem. Graham acaba esfaqueando Yoko e foge. Genya Arikado aparece dizendo a Soma que irá cuidar dela e que ele deve enfrentar Graham. No caminho, Soma Cruz encontra “J”, que se lembra da sua identidade, revelando ser Julius Belmont, o homem que derrotou Conde Drácula em 1999. Soma chega até a sala do trono, onde também está Graham. Soma Cruz diz que só deseja sair daquele castelo e ir para casa, mas Graham pretende destruí-lo completamente, pois ele absorveu almas demoníacas que pertencem à futura reencarnação de Drácula.
A partir do confronto com Graham Jones, o jogo Aria of Sorrow tem três possíveis finais diferentes. Esses finais são determinados por três almas que Soma Cruz utiliza durante a batalha com Jones. Os finais são:
- Normal Ending: Soma Cruz derrota Graham Jones. Soma Cruz ordena ao castelo que ele faça com que todos voltem de onde vieram. Mina e Soma retornam ao santuário que estavam visitando. O eclipse acaba e Arikado revela que o poder de Drácula retornou para o castelo e esperará por uma nova reencarnação, mas sem saber quando isso irá ocorrer.
- Best Ending: Graham Jones é derrotado e Soma Cruz absorve os poderes dele, percebendo que ele era a verdadeira reencarnação de Drácula. Arikado conta para Soma que ele ainda pode se salvar, mas para que isso ocorra, ele deve cortar o fluxo de caos do castelo. Soma vai até o “Chaotic Realm”, mas encontra Julius antes. Os dois se enfrentam e Soma vence a disputa, mas sem matar Belmont. Ele faz o assassino de Drácula prometer que ele matará Soma, caso ele vire Drácula por completo. Soma Cruz vence então a manifestação de caos e é parabenizado por todos no castelo. Ele então acorda fora do castelo, junto com Mina, ambos felizes por tudo ter acabado finalmente.
- Bad Ending: Soma Cruz é derrotado pela manifestação de caos e o espírito de Drácula o toma por completo. Mais tarde, ele está sentado em seu trono e Julius Belmont aparece para cumprir a promessa que fez a Soma Cruz.
O homem de muitas almas
Castlevania: Aria of Sorrow é um jogo 2D side-scrolling clássico, com perspectiva dos personagens em 3ª pessoa. Como nos outros jogos da série, os elementos básicos de RPG continuam, como o avanço de nível após obter certa quantidade de experiência, bem como o aumento dos atributos a cada nível avançado. Apesar do jogo se passar em um ambiente futurista, a tecnologia não foi incorporada ao jogo, por isso temos armas mais antigas, como machados, espadas e lanças e também uma pistola e um rifle.
Este game possui um novo sistema de habilidades, chamado “Tatical Soul”. Todas as almas inimigas (exceto dos chefões) podem ser absorvidas, dando habilidades adicionais aos jogadores. Jogadores também podem trocar almas utilizando dois GBAs conectados pelo cabo de conexão do portátil. Existem quatro categorias de almas diferentes e o jogador só pode equipar uma de cada tipo por vez.
- Bullet (ataque) – Almas de cor vermelha. Criam projéteis ao serem usadas;
- Guardian (defesa) – Almas de cor azul. Dão poderes de efeito contínuo, como transformar-se em criaturas místicas ou evocar espíritos;
- Enchant (status) – Almas de cor amarela. Ficam constantemente ativas e aumentam o status do jogador, também dá algumas habilidades, como andar sob a água;
- Ability (habilidade) – Almas de cor cinza. Essas almas não consome magia e podem ser ativadas a qualquer momento. Dão habilidades fundamentais para passar por determinadas partes do castelo de Drácula.
Existem outros modos de jogo que podem ser liberados, mas somente após o jogo ser zerado. O modo “New Game +” dá a possibilidade de o jogador recomeçar o jogo, mas com todas as armas e almas coletadas anteriormente. Esta opção somente será disponibilizada se o jogo for finalizado no “normal ending” e irá desabilitar a opção “Hard Mode”. Os outros modos são liberados independentemente do final do jogo. Um deles é o “Boss Rush Mode”, onde o jogador enfrenta todos os chefões consecutivamente, tentando fazer isso no menor tempo possível. O último modo liberado é o “Julius Mode”. Neste, o jogador utiliza o personagem Julius Belmont para finalizar o jogo. Julius possui a clássica “Vampire Killer” (chicote da família Belmont) e outros equipamentos clássicos, como uma cruz, machado, facas e água benta. Ele também possui uma técnica de teletransporte curto.
Mistérios no castelo de Drácula
A série Castlevania é muito famosa pela quantidade de mistérios e diversos easter eggs incorporados em seus jogos. Com uma temática bastante fácil de promover isso, Aria of Sorrow não poderia deixar de ter essa característica. Os diferentes finais mostram que o jogo é cheio de coisas escondidas. Vamos ver algumas curiosidades deste game:
- Genya Arikado é na verdade Alucard, filho do Conde Drácula;
- Nas salas onde é feito o save do jogo, é possível ver o caixão de Alucard;
- As almas que devem ser equipadas para gerar os finais alternativos são: Flame Demon, Giant Bat e Succubus;
- Um inimigo conhecido como “Kicker Skeleton” que pode ser encontrado em “Floating Gardens” é uma referência a Kamen Rider;
- Existem mais de 100 almas para serem coletadas;
- Se você colocar “NOUSE” na escolha de nome, nenhum item poderá ser usado;
- Este é o primeiro jogo da série que alguém da família Belmont é personagem principal e que tem a destruição de Drácula como tema;
- Se você colocar “NOSOUL” na escolha de nome, nenhuma alma poderá ser usada, somente aquelas necessárias para vencer o jogo;
- No “Hard Mode” é possível coletar e utilizar o Manto da Morte e a Foice da Morte;
- Quando Julius aparece no bad ending, Soma já transformado em Drácula, está sentado no trono e joga o cálice que ele está segurando no chão. Esta é uma cena clássica da franquia Castlevania;
- Castlevania: Dawn of Sorrow, jogo para o Nintendo DS, é a continuação direta de Aria of Sorrow.
Título definitivo dos portáteis
Castlevania: Aria of Sorrow foi muito bem recebido pela crítica. Ele foi amplamente comparado com os jogos anteriores e esta nova temática foi bem aceita. A Famitsu deu nota 36 de 40, sendo a maior nota de qualquer título da série. No Japão a venda foi baixa, tendo apenas 27 mil unidades vendidas em um mês de lançamento, enquanto nos EUA mais de 150 mil unidades foram vendidas após três meses do lançamento do game.
Este foi o terceiro jogo da série para Game Boy Advance. Muitos elementos foram trazidos dos jogos anteriores e as novas características do jogo o completaram muito bem e para muitos é melhor jogo de portáteis desta série. Gráficos, trilha sonora e a jogabilidade também fizeram deste um excelente jogo para Game Boy Advance, que só perdeu o prêmio de melhor game para portátil para Mario & Luigi: Super Star Saga.
Castlevania para todos os gostos
Recomendar um jogo da série Castlevania é algo bastante simples. Os temas Drácula e vampiros sempre foram de grande interesse de quase todos os aficionados por video-game. Uma nova temática, levando o jogo para o futuro, é algo que poderia preocupar os apaixonados pela franquia. Mas Aria of Sorrow superou todas as expectativas e jogou os receios para longe. A jogabilidade simples misturada com a complexidade da coleta de almas torna o jogo muito interessante. Um RPG praticamente completo, em que o jogador pode escolher seus poderes e habilidades conforme necessário. Mesmo que Drácula não esteja presente neste game, derrotar todos os demônios inimigos e entrar nesse enredo envolvente é algo que irá divertir a todos os tipos de jogadores. Um jogo que você não irá se arrepender de tirar o GBA do armário e zerar com gosto.