Quando Super Mario 64 foi criado, ficou fácil perceber que o jogo seria um divisor de águas. O jogo se tornou o título definitivo para game de plataforma em 3D. O personagem já era famoso e agora ficou ainda mais difícil de se bater, tanto na qualidade dos games quanto em seu carisma. A partir dai, muitos jogos e outros personagens foram criados para tentar bater o bigodudo. Hoje nossa Máquina do Tempo vai nos levar para um grande rival do Mario e que é adorado por grande parte dos jogadores: Banjo-Kazooie.
Corrigindo os problemas de megalomania
O jogo começou a ser desenvolvido no ano de 1995, pela mesma equipe que produziu Diddy’s Kong Quest. Ele foi planejado para sair no Super Nintendo e o projeto carregava o nome de “Dream”. A tecnologia gráfica de modelagem avançada que foi usada em Donkey Kong Country também estava presente neste projeto. Inicialmente, o jogo estava previsto para ser um adventure com um garotinho de personagem principal, chamado Edison. Ele usaria uma espada de madeira e se envolveria em problemas com o pirata “Blackeye”. No entanto, por ser “muito genérico”, o personagem foi substituído, primeiro por um coelho e mais tarde por um urso, que virou Banjo.
Com o tempo, o desenvolvimento acabou sendo transferido para o Nintendo 64. Já pensando nesse console, a Rare tinha interesse em mudar o tema do game, algo com mais ação e que se focasse quase inteiramente no personagem principal e suas habilidades. A equipe decidiu acrescentar novas habilidades para que Banjo fosse mais interessante e especial. Tiveram a ideia de criar um par de asas que saíssem da mochila dele, sendo utilizados como um “pulo duplo” e além disso eles acreditavam que o urso precisava de mais velocidade, por isso criaram um par de pernas que saía da mochila e o fazia correr mais rápido. Como a ideia parecia muito “non-sense”, eles chegaram à conclusão lógica de que essas qualidades deveriam pertencer a outro personagem e que ele deveria morar dentro da mochila de Banjo. Foi aí que surgiu Kazooie.
A trilha sonora foi composta por Grant Kirkhope, conhecido pelo seu trabalho em GoldenEye: 007. No jogo do agente secreto, ele não fez a trilha completa e sim, trabalhou na finalização dela. As músicas foram criadas para interagir com o jogador e refletir, dinamicamente, o local em que o jogador se encontra no momento. As músicas se alteram gradativamente, sem que uma pausa aconteça e deste modo, as aproximadamente 100 músicas permanecem em looping constante.
Banjo-Kazooie foi criado com uma técnica muito avançada para renderizar os gráficos. Os personagens foram criados com quantidades mínimas de texturização, para que parecessem com gráficos mais limpos e puros. Enquanto isso, os planos de fundo utilizaram as texturas máximas que o N64 suportava na época. Como resultado, a técnica causou vários problemas de fragmentação, deixando o jogo muito lento. No entanto, a equipe de programação conseguiu criar um sistema que remodelava a memória enquanto os jogadores estavam jogando, resolvendo o problema da fragmentação. Algo que para o líder da equipe não havia acontecido em nenhum outro jogo do console.
O Urso e a Bela Donzela
A história de Banjo-Kazooie não é profunda, como podemos perceber. Ela usa de elementos clássicos do tipo “resgate a princesa” e adiciona umas pitadas de humor e sarcasmo. Tudo isso funciona com bastante maestria, pois o que buscamos geralmente nesse tipo de jogo não é um enredo complexo cheio de segredos e “plot-twists”. O fato de seguir como uma espécie de fábula (sem grandes enrolações) ajudou, e muito, a aumentar o sucesso do game.
Os acontecimentos de Banjo estão localizados em Spiral Mountain. Eles contam a história do urso marrom Banjo e da pássara vermelha Kazooie, que mora dentro da mochila dele. Enquanto o urso é bastante lerdo e ingênuo, Kazooie é muito perspicaz e por muitas vezes sarcásticas. Os dois convivem em paz simultânea com os outros habitantes da montanha. Exceto Gruntilda.
Gruntilda é uma bruxa muito mau-humorada que deseja ser a mais bela de todas. Ao questionar em seu caldeirão, quem era a pessoa mais bonita, a resposta não foi a que ela esperava. O rosto que apareceu era de Tooty, a irmã mais nova de Banjo. Com inveja e muita raiva, a bruxa criou uma máquina que iria transferir a beleza de outra pessoa para ela e começou seus planos para sequestrar Tooty. Aproveitando que Banjo estava dormindo, Gruntilda captura a irmã mais nova e a leva para o seu covil. Kazooie percebe que a ursinha desapareceu e acorda o urso para resgatarem Tooty.
No caminho, eles encontram um amigo chamado Bottles, a toupeira. Ele conta que viu Gruntilda capturando Tooty e indo até o covil dela. Bottles afirma também que eles precisam coletar peças de quebra-cabeça e notas musicais para chegar até o lar da bruxa. Eles atravessam por inúmeros desafios e armadilhas impostas pela malvada até chegarem ao desafio final. O último obstáculo de Gruntilda é um jogo chamado “Grunty’s Furnace Fun”, algo como “O Forno de Diversão da Grunty”. Ele é um grande tabuleiro sobre um poço de lava. Cada espaço do tabuleiro aciona um mini-game diferente. A maioria são jogos de pergunta e resposta, sobre coisas que aconteceram durante o jogo ou pequenos recortes de fotos de algum local do game para o jogador identificar. Outros também são pequenas competições contra alguns lacaios da Gruntilda. Quando o jogador vence e atravessa todo o tabuleiro, a bruxa foge e os dois heróis salvam a pequena Tooty.
Todos estão comemorando o resgate da ursinha e o fato de terem salvado todos do mal, quando Tooty aparece e xinga eles, afirmando que a bruxa esta solta e eles tem um trabalho para terminar. Eles voltam para o covil de Gruntilda e chegam ao topo da torre para derrotá-la. Após uma longa batalha, eles conseguem ajuda dos amigos Jinjos e derrotam a bruxa, que fica presa embaixo de uma pedra gigante, prometendo uma revanche. Após isso, os dois heróis se reúnem com seus amigos na praia para festejar o final feliz.
Dupla dinâmica
Banjo-Kazooie é um jogo de plataforma em terceira dimensão. O jogador controla primariamente o urso Banjo e a Kazooie serve como um complemento de suas habilidades. A maioria dos movimentos e golpes são ensinados pelo amigo Bottles. Existem momentos que a movimentação dos dois é feita de forma conjunta, por exemplo, num salto maior, onde o urso se abaixa e a pássara utiliza suas asas para saltar em pontos mais elevados. Além dos ataques de Banjo (pular e rolar por cima), Kazooie atira ovos (devem ser coletados durante as fases) e tem certos pontos que permitem ela ativar o voo, mas com uma certa limitação.
No total existem nove níveis que podem ser acessados conforme o número de notas musicais e peças de quebra-cabeça. As notas musicais permitem o acesso a áreas mais profundas dentro dos mundos, enquanto as peças de quebra-cabeça garantem o acesso para os novos mundo. O jogo segue o padrão “não-linear” de Super Mario 64, pois o jogador pode coletar as peças de várias maneiras, sem necessidade de entrar em um local específico. Alguns níveis também podem ser pulados, caso o jogador tenha o número correto de itens.
Cada nível tem diversos obstáculos para serem resolvidos. Como jogo clássico de plataforma: coletar itens, pular por obstáculos e derrotar inimigos. Além disso, ele incorpora diversos elementos de jogos de aventura, já que o jogador tem que, muitas vezes, conversar com NPCs para descobrir o próximo passo. Os níveis de vida dos personagens são representados por pequenos favos de mel. Existem vários pontos secretos que ao serem encontrados, aumentam o número de favos do jogador. Além das penas que permitem o jogador voar, também tem as penas douradas, que dão um escudo impenetrável. Outros itens temporários como botas turbo podem ser encontradas em determinados pontos das fases.
Em algumas fases, Banjo e Kazooie recebem a ajuda do shaman Mumbo Jumbo. Ele usa os seus poderes mágicos para transformar os dois em diversas criaturas, como formiga, abelha, crocodilo e leão-marinho. Cada transformação serve para que o jogador possa acessar pontos das fases que eram impossíveis apenas com os personagens normais.
The Bear Stole My Glory
- A primeira aparição de Banjo foi no jogo Diddy Kong Racing;
- Os vilões do jogo seriam piratas, mas os produtores resolveram mudar o projeto;
- Existe um pirata que conta a Banjo que ele tinha um “Dream” e que um urso parecido com ele roubou sua glória. Isso é uma referência ao Projeto Dream, que foi a primeira ideia do game;
- Como jogada de marketing, um suposto mini-game de coleta de itens chamado Stop’n’Swop foi deixado no fim de Banjo-Kazooie. Ao coletar seis ovos de páscoa, o jogador iria desabilitar novas funcionalidades nos dois jogos da série Banjo.
- A localização dos ovos é revelada por Mumbo Jumbo, mas eles não estão nesse lugar e só podem ser acessados hackeando a fita original;
- O final de Banjo-Kazooie deixa sugerido um novo jogo chamado Banjo-Tooie, o que acabou acontecendo;
- A fase Gruntilda’s Lair do game é baseada na clássica música americana “Teddy Bear’s Picnic”;
- Clanker era para ser real ao invés de mecânico;
- As falas dos personagens são na verdade um looping de vários sons;
- Existem nove maneiras de entrar em Mad Monster Mansion;
- Banjo-Kazooie foi o jogo que mais vendeu em 1998 nos EUA;
- Existem 94 espaços no jogo de tabuleiro da Gruntilda;
- Já em Banjo-Tooie, a bruxa grita “Esperem pela minha vingança em Banjo-Threeie”, mas o jogo nunca foi lançado, pois a Rare foi vendida para a Microsoft.
Mumbo Jumbo, Banjo e Kazooie fazendo a festa. |
Um dos melhores
O jogo foi um sucesso de crítica e também foi muito bem recebido pelos fãs. Chegou a vender mais de 1,8 milhões de cópias nos Estados Unidos e as vendas no Japão passaram das 400 mil unidades. A crítica especializada não economizou elogios para o jogo e as avaliações também foram muito altas. Muitos consideraram o jogo o sucessor perfeito para Super Mario 64, enquanto outros afirmaram que o jogo manteve muitos aspectos positivos do rival, mas melhoraram eles de forma considerável.
Com certeza Banjo-Kazooie foi um marco para o Nintendo 64. A sombra que poderia carregar de Super Mario 64 simplesmente não existiu. Apesar das afirmativas de que o jogo era uma cópia melhorada graficamente, por causa do seu gameplay, fica evidente que isso é muito simplista. A forma como a história é contada, apesar de ser simples, insere o jogador no contexto do jogo, sem se perder e ainda gera umas boas risadas.
Muita semelhança pode ser encontrada na jogabilidade, mas isso não faz do jogo uma cópia. O acréscimo de Kazooie como complemento melhorou a forma de jogar e adicionou um personagem muito carismático. Os cenários são muito bonitos e bastante amplos, fazendo com que o jogador tenha vontade de explorar os mais diversos ambientes. Para quem é fã do Nintendo 64, este é um jogo que não pode faltar na lista e sempre vale ser re-jogado.