O ano de 2015 foi bastante movimentado para a Nintendo, seja pelos rumores e especulações do NX, pelo falecimento do presidente Satoru Iwata, ou mesmo pelo anúncio de novas políticas e estratégias. Em outras palavras, este ano ficou marcado pela nova postura que a Big N tem adotado, postura essa marcada por transformações no que tange à adaptação da companhia para atender às novas tendências do mercado mundial.
Em meio a tantas reformulações, a inserção da Nintendo no mercado mobile foi, sem dúvida, uma das notícias mais marcantes, afinal, a empresa se mostrou resistente a esse segmento durante anos, indo na contramão de tantas outras companhias famosas que atualmente produzem diversos jogos para celulares e tablets. Com isso, desagradando alguns e agradando outros, a Big N anunciou uma parceria com a DeNA (conceituada empresa de games mobile), confirmando o desenvolvimento de 5 jogos para plataformas móveis até 2017, sendo que o primeiro título chegaria ainda em 2015, e após meses de espera, a Nintendo finalmente revelou sua primeira produção que, assim como outros games, acabou sendo adiado para o ano que vem. Concomitantemente à revelação da empresa, surgiram também duas questões principais: Como o mercado reagiu ao primeiro jogo mobile da Nintendo? E os fãs, o que acharam?
Para tentar esclarecer alguns dos questionamentos, vale retomar algumas das informações principais do primeiro título da Big N para plataformas móveis. Dessa forma, quem acompanha o A Casa do Cogumelo já deve estar ciente de que Miitomo é o nome do game que será lançado no primeiro trimestre de 2016, e como o próprio nome sugere, será focado nos Miis, os famigerados avatares dos consoles da Nintendo.
Imagens oficiais de Miitomo |
A revelação de Miitomo aconteceu durante uma reunião com investidores liderada por Tatsumi Kimishima, sucessor do Iwata que atualmente preside a companhia japonesa e inclusive foi elogiado pela equipe aqui do site no CogumeloCAST #16. Durante o anúncio também foi revelado que o jogo será gratuito, mas com conteúdo pago, ou seja, será possível adquirir itens com dinheiro real. Kimishima também apresentou a mecânica do título, que será baseada na criação e interação entre os Miis, que irão se comunicar espontaneamente com outros jogadores, trocando informações do usuário.
De acordo com o que foi dito pelo presidente da Nintendo, a ideia principal do Miitomo é auxiliar na comunicação de pessoas tímidas. Assim, o foco do game é permitir que os jogadores se conheçam de forma divertida, revelando curiosidades pessoais aos amigos por meio da interação entre os Miis, encorajando os usuários a falarem mais sobre suas características.
Vale salientar que o conceito de ajudar na socialização de pessoas não é inédito. Aplicativos como Tinder e Crowdpilot já exploram esse universo, e mesmo não sendo necessariamente jogos, possuem uma premissa similar à do game apresentando pela Nintendo.
Mas como o mercado reagiu ao anúncio do Miitomo? Ao apresentar um título que não traz nenhuma grande franquia e que se assemelha mais a um aplicativo do que a um jogo propriamente dito, a Big N adotou uma postura contestável, que abriu margem para um feedback negativo. De tal forma, a resposta à conferência liderada por Kimishima foi quase imediata, e em menos de uma semana as ações da Nintendo sofreram uma queda de quase 20%, o que representa uma perda de aproximadamente 5 bilhões de dólares. É fato que o mercado de ações costuma reagir instantaneamente a uma notícia sem antes se aprofundar em aspectos mais concretos, mas essa queda ilustra um impacto negativo ocasionado pelo anúncio e também adiamento do game, que chegará ao mercado mobile só no ano que vem.
Imagens oficiais de Miitomo |
A insatisfação com Miitomo pareceu permear não só a opinião dos acionistas, como também a de muitos admiradores da Big N. Vários leitores do A Casa do Cogumelo protestaram em forma de comentário, alegando que o game anunciado é um ultraje para os fãs da companhia. Alguns, no entanto, foram menos pessimistas e, apesar de insatisfeitos, disseram que é preciso experimentar o título antes de tirar alguma conclusão. Há também, claro, aqueles que gostaram do jogo, mas essa parcela parece ser a menor entre os comentários presentes aqui no site.
Não bastassem os dados de mercado e o feedback dos leitores, um dos grandes ícones da Nintendo, Shigeru Miyamoto, pronunciou-se recentemente dizendo que o objetivo primordial da empresa, ao adentrar no mercado mobile, é atrair jogadores para seus consoles, objetivo que, nas palavras de Miyamoto, sobrepuja inclusive a obtenção de dinheiro. Essa declaração fomenta ainda mais o debate sobre as reais intenções da Big N ao se lançar no segmento dos dispositivos móveis, abrindo espaço para questionamentos a respeito da qualidade e foco dos jogos vindouros.
Independente das polêmicas, Miitomo chega em 2016, sendo que algumas características do game ainda se mostram obscuras, dando margem para especulações. Para compreender melhor o que estará presente no jogo, avaliando também aspectos como gráficos e jogabilidade, segue abaixo uma análise do que foi apresentado até o momento. É preciso ressaltar que os dados e as afirmações serão embasados naquilo que foi apresentado à mídia, ou seja, são apenas proposições que buscam delimitar melhor alguns conceitos. Muitas das especulações foram baseadas também em outros aplicativos e jogos da Nintendo.
Gráficos:
Comparação entre Tomodachi Life e Miitomo |
As imagens apresentadas até agora mostram gráficos bastante semelhantes aos de Tomodachi Life, aliás, esse game talvez seja uma das principais inspirações de Miitomo.
O estilo gráfico, à primeira vista, se mostra bonito, bem polido e com cores vivas. Não foi confirmado se as imagens mostradas são condizentes com a qualidade real do jogo, mas é bem provável que não, pois artes promocionais costumam conter todo um tratamento que altera o conteúdo original. Entretanto, espera-se que Miitomo apresente algo bem semelhante daquilo que é visto nos aplicativos com Miis, tanto do 3DS como do Wii U. O estilo caricato, não apostando em imagens ultrarrealistas, pode indicar uma maior compatibilidade com dispositivos mais antigos, não exigindo assim aparelhos superpotentes. Não se sabe até o momento qual a resolução máxima do jogo, porém, é provável que a versão final traga gráficos de maior qualidade do que os do 3DS, por exemplo, devido ao fato de que muitos celulares e tablets possuem resolução Full HD.
Sons:
Até o momento não foi apresentado nenhum vídeo contendo gameplay, dificultando a análise sobre os aspectos sonoros. Todavia, é possível que a soundtrack seja parecida com a de Tomodachi Life, ou seja, estarão presentes músicas que passeiam entre diferentes estilos, mas com uma pegada mais eletrônica, ao invés de utilizar instrumentos reais, sugerindo também temas com um aspecto mais divertido. Referente aos efeitos sonoros, é bem provável que exista uma boa variedade de sons para representar as emoções e atividades dos personagens. É possível também que as vozes dos avatares sejam no estilo de Tomodachi Life, onde os Miis reproduzem sonoramente as frases, mas com uma alteração no andamento e na frequência, deixando as falas engraçadas.
Jogabilidade:
Comparação entre Criador Mii e Miitomo |
A jogabilidade é o que mais foi detalhado até o momento, porém, ainda ficaram diversas incógnitas. Como dito anteriormente, a premissa do jogo é a socialização entre amigos, de forma que os Miis irão visitar outros jogadores, iniciando conversas onde serão reveladas informações pessoais e curiosas. Além do aspecto principal, é praticamente certo que haverá um sistema amplo de personalização do avatar, e de acordo com o que foi mostrado nas imagens, espera-se uma mecânica similar ou idêntica à do aplicativo Criador Mii presente nos consoles da Big N. De tal modo, o player poderá modificar o tom de pele, os olhos, o nariz, a boca, o cabelo, alguns aspectos físicos como altura e peso, além de poder colocar vários acessórios como óculos, roupas, etc. Como foi confirmado pelo presidente da Nintendo, Miitomo será gratuito, mas com itens pagos, assim, acredita-se que várias opções de customização só serão disponibilizadas mediante a pagamento com dinheiro real. Os Miis também terão apartamentos, o que remete a opções de customização do ambiente, envolvendo aspectos como papel de parede, tapetes, portas, janelas, dentre outras coisas. Vale salientar que até agora não foi confirmado se será possível visitar o apartamento dos amigos voluntariamente.
Apesar de não ter ficado muito claro, acredita-se que as informações que o Mii irá coletar do seu usuário serão predefinidas, ou seja, o avatar irá realizar perguntas que devem ser respondidas, compondo dessa maneira a gama de informações que serão compartilhadas com os amigos. Noutras palavras, é possível que o jogador não tenha liberdade de dizer qualquer coisa ao seu Mii, limitando-se apenas a responder as perguntas preestabelecidas.
Talvez estejam presentes alguns minigames que permitirão desbloquear itens, ou mesmo reunir pontos em uma espécie de ranqueamento. Tais minijogos talvez possam ser jogados com outros Miis. Também acredita-se que estarão presentes outras opções de atividades como cantar, dançar, comer, etc. Essas especulações se baseiam totalmente no que foi mostrado em Tomodachi Life, pois nada foi confirmado pela Nintendo.
Ainda não se sabe como funcionarão todas as opções de contato e de interação entre os avatares, porém, pode-se supor que os usuários irão estabelecer relacionamentos, o que inclui diferentes tipos e níveis de amizade e namoro. Também é possível que existam opções de compartilhamento entre os jogadores, para troca de presentes, itens e outros objetos além de simplesmente frases.
Um último aspecto que vale ser citado, refere-se à localização do jogo para o Brasil. A tradução de títulos para o português nacional não é algo que a Nintendo pratica, então existe a possibilidade de Miitomo chegar apenas em inglês, o que seria uma pena para os jogadores brasileiros.
É preciso destacar novamente que todas as proposições presentes na análise acima foram baseadas em outros aplicativos como Mii Plaza e SpotPass, além do jogo Tomodachi Life, ou seja, tudo não passa de mera especulação, e os aspectos sobre Miitomo só ficarão claros quando o jogo for lançado, ou quando novos conteúdos forem oficialmente revelados.
Saindo de uma perspectiva mais técnica para adentrar em uma abordagem subjetiva, saio também da imparcialidade da 3ª pessoa para relatar aqui a minha opinião sobre o Miitomo.
Após o anúncio de Pokémon GO, que pegou muita gente de surpresa, consegui vislumbrar um futuro promissor para a Nintendo no que se refere à produção de jogos para o mercado mobile. Se um jogo da franquia Pokémon foi anunciado inesperadamente, o que a Big N reserva para o seu pronunciamento oficial que irá revelar o primeiro game para dispositivos móveis? Sinceramente eu esperava por Mario, Zelda, Kirby, Yoshi, etc., enfim, algum grande nome para começar com o pé direito, assim como Sega, Ubisoft e tantas outras empresas já fazem. Confesso que cheguei a especular até uma nova franquia, daquelas que só a Nintendo sabe fazer, ajustada especialmente para os smartphones, usando e abusando da inovação no gameplay. Ah, se eu pudesse voltar no tempo… com certeza não teria passado por toda essa ansiedade, nem teria alimentado tanta esperança para chegar ao final de 2015 e ver um “BuddyPoke para celular”. Vocês lembram de BuddyPoke? Aquele jogo onde você criava um personagem e customizava sua aparência, para depois sair interagindo com os amigos do Orkut? Pois é, o Arthur aqui do A Casa me lembrou desse aplicativo, que marcou a adolescência de muitas pessoas, e me pareceu pertinente citá-lo. Mas, brincadeiras à parte, estamos falando da Nintendo, uma das maiores empresas de games do mundo, tida por muitas como aquela que salvou os videogames nos anos 80, a mesma que lançou o Super Nintendo e o Wii, sim, estamos falando dessa companhia, que infelizmente também é a mesma que vai lançar um “jogo” social para celulares e tablets. Não consigo compreender como a Big N, com todo o seu potencial, apostou em um título de interação entre Miis, uma versão reduzida e simplificada do Tomodachi Life, baseando-se em uma concepção que talvez faça mais sentido nas terras nipônicas, mas que não parece condizer com as raízes da empresa.
Apesar de tudo, não podemos perder as esperanças, afinal, são cinco títulos que serão apresentados até 2017, e Miitomo é apenas o primeiro. Talvez seja essa a maneira que a Nintendo encontrou para dar um passo de cada vez, almejando explorar o segmento para só investir pesado quando os alicerces estiverem sólidos. Mas o gosto amargo de uma decepção dói, amigos. Aliás, decepção é a palavra que melhor define o meu sentimento nos últimos anos. Espero de verdade que o NX mude isso.
Enfim, fiquei decepcionado com Miitomo e tenho medo que essa seja a estratégia da Big N para o mercado mobile. Porém, é só a minha opinião, e eu gostaria de saber a sua. Então, deixei aí nos comentários. O que você achou do game para dispositivos móveis anunciado pela Nintendo? Você acha que a Big N deve trazer grandes IPs para o mercado mobile? O que você espera da companhia para o ano que vem? Comente aí, vamos interagir.