Paper Mario é uma série muito encantadora e nunca precisou de grandes alardes para alcançar o público que alcança. Isso ficou claro no anúncio de The Origami King, que veio bem de repente, pouco depois da Direct Mini no final de março e um pouco antes da E3, que costuma ser em junho, mas não aconteceu pelo isolamento social aplicado no mundo todo.
O anúncio foi, talvez estrategicamente, bem próximo da data de lançamento do jogo, o que fez o trailer ser bem imersivo, com história já bem construída e personagens novos já apresentados com carisma e motivações definidas. O intervalo de dois meses entre anúncio e lançamento foi o suficiente para que uma grande expectativa fosse criada em volta da mais nova aventura de papel de Mario e companhia.
Esta é a análise de Paper Mario: The Origami King, que veio exclusivamente para Nintendo Switch no dia 17 de julho de 2020. A cópia utilizada para análise foi fornecida pela própria Nintendo. Muito obrigado por isso! Vamos ao que interessa:
História e Visual
Como todos os jogos do Mario, a história segue a receita que já conhecemos: a Princesa Peach foi raptada, ou melhor, desta vez transformada em origami. O culpado disso é a realeza de origami, o Rei Olly, que acredita que o mundo ideal é feito só com papéis dobráveis e envolve o castelo da Peach com algumas serpentinas enquanto monta um exercíto de soldados dobrados para que ninguém consiga parar seus planos.
Mario tem então a missão de resgatar a princesa e seguir estas serpentinas que abraçam o castelo, e para isso contará com a ajuda de Olivia, irmã do Rei que entende o quão sinistros são os planos de seu irmão e quer ajudar a reverter tudo isso.
Por trazer os origamis como algo diferente e como um inimigo em comum, o jogo cria desde o começo um clima de “papel contra origami”, onde você entende quem vai te ajudar ou te atrapalhar só de bater o olho. Shy Guys de papel? Pode chegar perto sem medo ou até mesmo parar para conversar, pois quem te desgastará são os Shy Guys de origami, e isso se aplica a todos, já que os inimigos aqui são os Folded Soldiers, os soldados origami. Isso cria um ambiente bem legal que faz com que o Mario fique bem próximo de vilões como Goombas, Koopas e até o próprio Bowser, que aqui tem um papel de não ser o vilão central, mas sim um antagonista que ajuda e atrapalha, similar ao que vimos na série de Mario & Luigi nos portáteis.
O jogo é bem colorido, vivo e carismático. Origami King usa e abusa da proposta de “tudo aqui é de papel” e cria muito em cima disso: o próprio origami já é um novo jeito de explorar o papel, temos também inimigos feitos de papel machê, estruturas mais robustas usando papel enrolado ou papelão e por aí vai. Muito disso já foi usado antes, mas dá para perceber que foi potencializado nesse jogo. Graficamente falando, não sei para onde a franquia Paper Mario poderia ir além do que foi dessa vez. Belíssimo trabalho.
A comédia nos diálogos está bem parecida com o que vimos em Paper Mario Color Splash (Wii U), com várias sátiras e trocadilhos que vão te arrancar risos de canto o tempo todo e com piadas muito bem encaixadas que inclusive quebram a 4ª parede algumas vezes.
Jogabilidade
Diferente do que Paper Mario foi no passado, os parceiros que o acompanham na sua jornada desta vez participam de forma temporária, servindo como parte importante para o mistério de se desdobrar (perdoem o trocadilho). Ao decorrer do jogo, você entende que tudo foi pensado para que cada parceiro te ajude e faça sentido só em determinada parte do jogo e não funcionaria tão bem em outros contextos. Foi mais uma tomada de decisão diferente que funcionou muito bem, na minha opinião. É um retorno às raízes ao mesmo tempo que não retorna de fato.
A jogabilidade é bem simples no mundo aberto, onde basta andar, pular e martelar. Os cenários possuem colecionáveis e tarefas que incentivam a exploração, como encontrar Toads espalhados (e dobrados de todas as maneiras que você possa imaginar), preencher buracos no cenário com confete, quebrar todos os blocos e achar pequenas estátuas que compõe o museu da Toad Town.
Essas tarefas são divididas por áreas que você visita, mas você pode consultar o seu progresso a hora que quiser através do menu, na aba “Map“. Fazer 100% em qualquer uma delas te dá ainda mais vontade de fazer tudo, só pela satisfação de saber que tudo foi visto e explorado. A palavra “tarefas” pode ficar melhor entre aspas, afinal tudo isso te desafia e te distrai, mas sem ser uma obrigação, o que torna tudo ainda mais leve e te dá o alívio de saber que pode voltar para qualquer área depois com mais calma.
A parte que talvez possa incomodar jogadores menos pacientes é a parte dos tutoriais, que são longos demais. Faz sentido, afinal todo mundo precisa entender a nova dinâmica de batalha, mas em alguns momentos a ação pode ser interrompida pela Olivia, explicando um pouco mais, te corrigindo ou ensinando. Existe uma boa intenção em insistir, para ter certeza de que você pegou tudo e não se frustrou com as mecânicas novas. Melhor ficar bravo por excesso de explicações do que pela falta delas, não?
Na minha opinião o jogo não é nem muito fácil nem muito difícil. A única coisa que ele exige de verdade do jogador é a sua atenção. A resolução de puzzles está em todos os detalhes, desde os menores até os maiores. É muito difícil você jogar no “piloto automático”, já que isso te faz tomar decisões que te atrasam.
Andar sem atenção te faz pular detalhes legais e o único lado ruim nisso é não ter uma experiência mais completa. Então dá para dizer que o jogo fica mais imersivo ou não a depender de como ou de quanto você explorou. Só o jogador perde, a história se mantém divertida tanto para quem fez tudo quanto para quem pulou tudo.
Explorar te recompensa também deixando as batalhas mais fáceis, já que fazer as tarefas e conversar com todos aumenta sua vida e te traz mais itens para equipar e usar em combate. Fora tudo isso, quanto mais você participar delas, mais rápido irá entender como funcionam. E falando nas batalhas…
Sistema de Batalha
Origami King foge das raízes mais fortes de RPG vistas no Nintendo 64 e GameCube e também das propostas mais ousadas de 3DS e Wii U para criar seu próprio estilo: lutas baseadas em anéis. Ou círculos, como preferir.
As batalhas acontecem em um tipo de cubo mágico em formato de tabuleiro de dardos, onde o Mario fica no centro e os inimigos ao redor. Seu objetivo é usar movimentos limitados para alinhar os anéis desse círculo, seja horizontal ou verticalmente, para que Mario consiga atacar o maior grupo de inimigos de uma vez só.
Quanto melhor for o seu alinhamento nestes puzzles, melhor para o Mario e para o combate. Se o alinhamento for feito corretamente, você é recompensado com mais poder de ataque e a batalha termina sem os inimigos terem a chance de atacar. Agora, caso o alinhamento não tenha sido feito da maneira correta, o combate fica mais longo. Você continuará tendo sua chance de atacar, mas as suas vezes não serão o suficiente para derrotar os inimigos no campo, o que faz com que sobrem inimigos vivos e que exista um momento de contra-ataque deles, para que aí então você se defenda e seja sua vez de novo, para realinhar os inimigos que sobraram e atacar de novo, até todos serem derrotados.
A dinâmica de anéis está presente em todas as batalhas, tirando as dos chefes — que ainda são em anéis, mas tem uma pegada um pouco diferente que explico mais para frente — e tirando outras poucas ocasiões de combate que ocorrem durante o jogo, mas na minha opinião não chega a ser algo chato ou repetitivo. No meio desse esquema existem diversos inimigos que reinventam essa estratégia, pois existem adversários que farão Mario usar apenas o martelo, ou apenas pulos, inimigos pontudos, que desaparecem, que voam e outros tipos. Fora isso, os inimigos estão mais complexos, com mais de um ataque e cada ataque possuindo um nome próprio, o que dá um toque bem único para cada um deles. Toda essa diversidade quebra bastante a fórmula e a possibilidade do esquema de anéis ficar enjoativo, o que não existiu durante a minha experiência.
Dessa vez os combates não te dão nenhum tipo de XP, mas te recompensam com moedas e confetes, que são basicamente tudo que você precisa para explorar ainda mais os cantos desse mundo de papel. Se não for nenhum combate necessário para prosseguir a história, outros momentos de confronto podem ser pulados, se você não estiver precisando de nenhum desses recursos.
Pensando em não deixar a proposta tão repetitiva, quanto mais forte você fica (coletando corações que aumentam seu HP e sua força), menos você precisará participar de lutas menores. A depender da sua força já é possível, por exemplo, eliminar um Goomba direto no mapa, com um pulo ou martelada, sem precisar entrar no tabuleiro de batalha para fazer isso em uma rodada mais longa.
Esse diferencial é ótimo e seria muito bem-vindo no passado. Isso faz com que a gente ganhe tempo e tenha mais energia para explorar.
Trilha Sonora e outras novidades
As batalhas com os chefes são uma das novidades que eu mais gostei nesse jogo. Diferente das batalhas convencionais, ao enfrentar os chefes, são eles que ficam no centro ao invés do Mario, e o objetivo é alinhar os anéis para que o Mario passeie pelo tabuleiro e chegue em segurança até o centro para atacar. Eu não vou dar muitos detalhes para não estragar sua experiência, mas saiba que todo o chefe tem sua particularidade e nenhuma luta é igual a outra. Tudo se resolve de maneira muito criativa e com uma pitada de paciência, que todo bom puzzle exige.
A trilha sonora do jogo todo é tão viva quanto o visual, com músicas e ritmos que eu consigo ver brilhando em algum Super Smash Bros. ou Mario Kart. Todas envolvem batidas fortes e marcantes para os cenários que foram pensadas, sem ficar repetitivas ou irritantes. A música de batalha é um charme a parte, já que ela segue sempre o mesmo padrão, mudando apenas o instrumental a depender de onde você estiver, então espere a mesma música porém com instrumentos temáticos pensados para as mais diversas áreas do jogo.
Veredito
Fica bem claro para todo mundo que a Nintendo colocou o pé no freio no quesito de RPG e pisou no acelerador para criar um mundo de papel cada vez mais detalhado. Isso faz os amantes do gênero tático perderem aquele gerenciamento mais aprofundado em combate, mas recompensa quem explora mais. Apesar de se afastar desse estilo, ainda mantém de maneira forte o estratégico, com puzzles interessantes e traz algumas possibilidades de equipar itens, acessórios e afins, o que faz Origami King ser tão híbrido quanto o próprio Nintendo Switch.
Focar num mundo de papel trouxe alguns deslizes no passado, como incluir adesivos e tinta, mas parece que o foco no origami finalmente acertou a mão para um jogo que com certeza vai te prender pelo visual e te manterá por lá pela criatividade e senso de humor.
Paper Mario com certeza entrará para a minha lista pessoal de jogos preferidos no Switch. Se você não conhecia a franquia, agora é um ótimo momento para isso acontecer.