Welcome stranger! O jogo é bom, o jogo é muito bom e viciante, tanto que sua análise atrasou uma semana pois esse humilde escritor não conseguiu parar de jogar para escrever.
Um metroidvania muito bom, acho que esse ano será difícil algum ultrapassar sua qualidade. Clássicão, telas sinistras, temáticas do mal, monstros badass em todos corredores e mestres… Mestres fucking gigantescos e difíceis para um c@$%@*. Tudo que precisamos para nos sentir no castelo do cramunhão.
Mas, Dead Cells não é um Castlevania, podemos dizer que sua história lembra mais um Dark Souls 2D. Como assim? Na real, você é um bostinha, uma pilha de morto-vivo que está em decomposição, e precisa explorar por ai para “sobreviver” acumulando células para não “morrer” e não tem noção nem memória do que acontece naquele lugar sinistro.
Como bom bostinha você precisa se virar para sobreviver, encarando zumbis, capetas e todo tipo de coisas na noite do terror, e claro, sem aquele protagonismo, você é apenas um zé com uma espada enferrujada e você irá morrer. E morrerá de novo.
Roguelike
Você irá morrer nesse Metroidvania, morrerá várias vezes e isso não é tão ruim, cada vez que você jogar Dead Cells, as telas irão se embaralhar e mudar os locais de inimigos e loots, sendo um fator roguelike que ajuda o jogo a manter sua diversão/dificuldade. Tornando sua jornada atrás de células ainda imprevisível e fará você sair da zona de conforto de “eu lembro dessa tela”.
Dessacralizado!
A cada partida é possível juntar ouro, células, mutações e receitas e quando você morre, perde tudo menos as células já aplicadas, usamos as células nas entretelas para comprar as receitas de armas e mutações, uma vez investidas as células aquelas receitas são suas para sempre, a única evolução fixa entre as mortes. Se você morre no meio de uma tela carregado de células (tão preciosas), já era, células perdidas e aquela vontade de tacar o controle na parede. Mas, estranhamente você tem a noção que já evoluiu um pouco, investiu umas células, em vez de desmotivar o jogador, você reinicia a jornada e sai babando de ódio para se vingar daquele zumbi fétido.
Em resumo, a morte (e a sede de vingança) te incentivam a explorar de novo, em novos corredores e monstros, sempre atrás de células e melhorias para seu defunto. Cada vez com determinação e habilidades melhores sendo a cada jogada uma sensação de chegar mais longe nessas criptas.
Gameplay
Duas armas principais, podem ser espadas, lanças, quebra-nozes, diversas armas de corpo-a-corpo com sequências variadas e velocidades distintas, que torna cada jogador apto a diversos combos com timings distintos. Até arcos e bestas de repetição, criando uma infinidade de combinações e táticas de “colar no bicho”, sendo possível ser um guerreiro mais rápido com um zilhão de hits por segundo ou aquele cara que chega em uma porretada só e fim de papo.
Fora as armas principais você terá duas armas auxiliares nos botões dos ombros, sendo armas táticas ou simplesmente maior poder de fogo, desde granadas, granadas de gelo, armadilhas imobilizantes e minha preferida a Rasga-tendão. Todas para criar uma combinação perfeita de ataque para o estilo do jogador e para chegar perto daquele capetão apelão que pode te solar com dois hits. Sério, o game tem dificuldade nível Castlevania clássico, dá pra morrer pro zumbi da primeira tela fácil.
A curva de aprendizado do game é muito boa e viciante, nas primeiras vezes que joguei me senti duro, travado e muito frágil, quase um Castlevania clássico do SNES, após algumas partidas você, jogador, ganha confiança e domínio dos controles, articula suas armas preferidas e você voa pela dungeon, atravessa as telas iniciais de forma precisa e rápida, você sai de Belmont travadão e cruza as dungeons estilo Ninja gaiden na adrenalina do café.
Narrativa
Você acorda e precisa sobreviver, andando nessas dungeons sinistras, todos os NPCs são bem genéricos e de falas típicas, papo misterioso, cheio de segredos e duplos sentidos. Nada que ajude muito ou atrapalhe. Como o protagonista diz “Só um pessoal meio estranho”. Clichê, mas, não é a única forma do personagem compreender seu enredo.
Dead Cells faz algo que me remeteu ao Castlevania Symphony of the Night (alguém lembra do confessionário com a fantasma?), ele usa o cenário e observação dele para contar/interpretar os acontecimentos do local. Nosso protagonista sempre com uma curiosidade e simplicidade interpreta e comenta sobre os eventos ocorridos nos locais, portas arrebentadas, pratos de comida abandonados pela metade, cartas do rei em salas de guarnição. Todos esses eventos vistos pela visão do protagonista e com a simplicidade dele, tornando esses momentos agradáveis e até o momento de alivio cômico do game, sem forçar a barra e estragar o clima do game.
Estética
Quando você reparar que a cabeça do protagonista é luz e ilumina de leve a mudança de plataforma e a entrada de novas salas, você compreenderá que o game é muito bem feito. Suas artes, efeito de partículas, capetas desgraçados explodindo em pedaços, tudo muito bem feito. Muito bonito e funcional.
Os efeitos sonoros são muito bons, cada arma tem seus efeitos específicos e únicos, todos bem distinguíveis e marcantes (você lembra da pancada do quebra-nozes por semanas). As músicas são muito boas e não enjoam, na verdade você esquece delas e imerge na velocidade e combos letais e precisos do game, sendo então, a música não atrapalha e não enjoa, elas ficam lá, existindo para você percebe-las na hora que dá uma pausa na matança.
Veredito
O jogo mistura tudo que é bom e usual nos clássicos Metroidvanias e coloca pitadas de Dark Souls, sem deixar o game injusto ou frustrante, na realidade usando a morte como um fator renovador para o desejo do jogador. Usando as melhores mecânicas dos dois modelos, com uma temática muito boa e uma produção de qualidade, o game pode ser considerado um dos melhores Metroidvanias do ano.
Essa obra-prima foi criada pela francesa Motion Twin, um dos estúdios indies com uma filosofia de trabalho muito boa. Assunto para outra matéria.
A cópia para essa análise nos foi cedida pela parceira GOG e você pode conseguir a sua clicando aqui.