Persona é uma jornada sobre o autoconhecimento, onde temos personagens que devem superar limites que foram impostos a eles ou por eles mesmos, em algum momento na vida, tornando toda a aventura quase que pessoal para o jogador.
O conceito da palavra Persona vem da psicologia junguiana, sendo a manifestação da personalidade de alguém, como uma mascara que utilizamos para enfrentar alguma dificuldade, ou mesmo que utilizamos para encarar o dia-a-dia. Outro conceito vindo de Jung que está presente no jogo é a Shadow (Sombra), que é a manifestação do lado negativo da personalidade e inimiga da Persona no jogo.
Cada jogo tem como foco um tema em específico que é uma causa em comum para cada um dos personagens que entrarão no grupo do protagonista. Abaixo vou descrever sobre os três mais recentes jogos da franquia.
Persona 3/ Persona 3 FES/ Persona 3 Portable – Morte e Tristeza
Pode parecer engraçado utilizar tantos títulos para um único jogo, mas cada um se refere a uma versão diferente que foi lançada.
No ano de 2006 foi lançado Persona 3 para Playstation 2 e no ano de 2007 a edição definitiva de Ps 2 que foi denominada Persona 3 FES, a história gira em torno de um protagonista que recebe o nome que o jogador desejar (ou Minato Arisato de acordo com o mangá ou Makoto Yuki conforme o filme), que após viver em diversos lugares é convidado pela Kirijo Corporation a frequentar a Gekkoukan High School, local que encontra outros personagens que futuramente entrarão para o grupo do protagonista.
Persona 3 Portable foi lançado em 2010 para PSP, acrescentando a possibilidade de fazermos toda a jornada com uma personagem feminina, com isso destravando novos social-links e cenários, mas devido a limitação do UMD do PSP, muito do conteúdo da versão Persona 3 FES foi retirada, incluindo o capitulo The Answer, que conta o que ocorreu após a luta final.
Cada um dos personagens que entram no grupo possui um background que gira em torno da morte de algum ente querido, e é esse o tema que exploramos durante o jogo. A aceitação da morte de alguém, de permitirmos que essa tristeza seja exteriorizada, encarar que podemos seguir em frente mesmo após a perda.
Todo jogo possui uma paleta de cores mais fria, tento tons de azul como predominante e sempre em tons mais sombrio, uma outra cor que aparece bastante durante a jornada é o cinza, uma cor que podemos dizer que suprime as emoções.
Isso não foi uma escolha ao acaso, pois até os personagens que temos nos Social-Link, possuem uma história de algum sentimento reprimido dentro deles, que vamos descobrindo conforme cresce a amizade entre eles e o protagonista.
Persona 4 / Persona 4 The Golden – Realidade vs Ilusão
Lançado originalmente em 2008 para Playstation 2 e em 2012 em uma versão mais completa para PSVita, Persona 4 trouxe uma história diferente focada em verdade versus ilusão, pode parecer estranho mas é uma ótima história.
Tendo um clima completamente diferente, com cores mais vibrantes e diversificadas, uma opening mais alegre e personagens que sempre parecem ter um sorriso fácil no rosto, porém que escondem algo que vamos descobrindo com o jogo.
Novamente temos um protagonista que escolhemos o nome, que por causa do emprego dos pais, acaba tendo que se mudar para Inaba uma cidade fictícia do interior do Japão e que após a chegada dele estranhas mortes começam a acontecer com alguns habitantes do local.
Em Persona 4, todos os personagens buscam pela verdadeira identidade, por quem realmente são, o que sentem, os medos que carregam, as incertezas, futilidades e a não aceitação com o gênero o qual nasceu.
Toda a narrativa é voltada nesse desenvolvimento de quem realmente você é e também no quem você quer ser para o mundo te aceitar, pode parecer um tema bobo e pode estar pensando que é apenas coisa de adolescente, mas eu tenho certeza que pelo menos uma vez por semana, você deve para e pensar se tudo isso que você tem na vida é o que realmente quer, se você se porta da maneira que realmente quer, ou isso tudo é a Persona que você criou para encarar o mundo.
A cor predominante em Persona 4 é o amarelo, ofuscante e caloroso, que entra com o significado de amizade e emoção, ao mesmo que tempo que também representa medo e ansiedade.
Os personagens que você acompanha durante o jogo tem que aprender o que eles realmente são, o que realmente eles querem e sentem, que somente dessa forma eles irão entender o que o querem.
A cidade de Inaba possui muitos tons de marrom e verde, sente muito mais calorosos do que os tons cinzentos da cidade do jogo anterior.
Persona 5 – Liberdade e justiça
O mais recente titulo Persona 5 foi lançado em 2016 para Ps3 e Ps4 no Japão, chegando ao ocidente somente no ano de 2017 para as duas plataformas da Sony.
Dessa vez temos uma história que começa com um pegada diferente, o protagonista é obrigado a passar 1 ano em liberdade condicional, após um crime que não cometeu e com o decorrer do jogo vemos o que realmente aconteceu na noite que o protagonista foi injustamente acusado de algo que não fez.
Pela primeira vez temos uma personagem que não é o centro de atenção do colégio, pelo menos de forma positiva, afinal todos os estudantes apenas apontam para ele como o “aluno que já foi preso”.
Com isso teremos uma história focada em justiça e liberdade, não somente do protagonista, mas dos demais personagens que cercam ele, principalmente dos Confidants (novo nome para o Social Link), que desempenham um papel maior no jogo, pois conforme vamos avançando a relação do protagonista com cada um, novos bônus vão surgindo para usar em batalha. Assim como a mudança da invocação da Persona, que dessa vez os personagem arrancam as mascaras que utilizam, deixando bem clara a intenção dos produtores de mostrar a verdadeira personalidade.
Um fato desse jogo que me chamou a atenção é a quantidade de absurdos que um adolescente pode ouvir de alguém mais velho, ainda em uma cultura mais rígida como japonesa, pois temos um caso no jogo de uma estudante que sofre abusos de um professor, mas ela sabe que se contar não vai adiantar nada, outros alunos começam a receber punições físicas desse professor e chega um ponto que a aluna tenta suicídio, que para ela seria a única forma daquilo para, já que ninguém iria ouvir ela, pois é “uma adolescente e deve ficar quieta”.
Foi todo esse tema mais denso que me chamou atenção, sendo um dos mais pesados da serie toda em minha opinião e o que mais gostei foi ver todos os personagens lutando para que todo esse pensamento das pessoas mude, que elas passem a escutar os demais.
Toda a paleta de cores de Persona 5 é em tons fortes, principalmente vermelho e preto. O vermelho podemos associar a excitação e perigo, enquanto a cor preta podemos colocar ela com sofisticação, o metro do jogo é trabalhado em tons de cinza que mostram novamente emoções reprimidas e opressão. Tudo novamente muito bem utilizado para passar o clima da Tokyo que este jogo quer nos apresentar.
Muito mais que um jogo
A serie Persona se tornou a minha favorita com o passar dos anos, somando quase 10 anos desde a primeira vez que joguei.
O foco na narração, no desenvolvimento de personagens, a trilha sonora, tudo criado nesse mundo é o que torna o jogo uma experiencia diferente dos outros RPGs que joguei com o passar dos anos, fazendo com que todo ano jogasse novamente os jogos, para rever aqueles personagens e história.
O fato de você ter um protagonista sem um nome definido até mesmo com uma voz que surge apenas nas invocações das Persona, acaba fazendo com que você se sinta na pele do personagem, planejando cada ação como se fosse ele, passando a entender o sentimento dos outros personagens de seu grupo e fazendo com que cada as escolhas de cada personagem da party seja importante para você.
Persona foi um jogo que me ajudou muito a pensar nas consequências de meus atos, no que realmente quero para minha vida, quem realmente sou, em tudo que já fiz e como tudo isso reflete no que sou agora e no que minha Persona é agora.